terça-feira, 17 de novembro de 2009

CATARINA, MINHA SANTA

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No Espelho sem Aço, o fotoblog do JUS SPERNIANDI, e que consta ali do lado, publico imagens de toda espécie.

O critério é a mais absoluta falta de critério na seleção. Vai de tudo, desde que fotos tiradas por mim ou familiares ou autorizadas.

Ontem, procurando entre as centenas de fotografias aqui de casa, encontrei uma de Florianópolis, Capital da Catarina, minha Santa de origem, um instantâneo em que a rua Felipe Schmidt aparece quase sem nenhum carro!

Coisa rara.

A foto é do final dos anos 70 do século XX e transmite um silêncio, uma paz, uma tranqüilidade que hoje não se sente mais, pelo menos naquele retângulo ocupado pela imagem. Acho que era um domingo de manhã e toda a população estava contritamente na missa.

Disponibilizei sua utilização ao
Carlos Damião, um novel blogueiro como eu, especialista na publicação de imagens raras de uma Santa Catarina antiga, quando ela era mais santa, mais jovem mas não mais bela, pois continua linda como sempre. Ele a colocou em seu blog.

Só não gosto do trânsito da ilha. Trauma do tempo de estudante: eu morava no continente e tinha que ir até à Trindade para estudar. Filas imensas no acesso à ponte Hercílio Luz – única então – e eu, azarado, escolhia sempre aquela que se movimentava mais lentamente. Cheguei a suspeitar que os guardas, quando viam o meu fusquinha azul lá embaixo, perto do quartel do Exército, decidiam fazer aquela fila andar mais devagar. Então começava o festival do buzinaço. Muitos daqueles guardinhas devem ter sido aposentados precocemente por traumas de guerra...

Até hoje não consigo ir para lá sem que enfrente algum engarrafamento, ou por acidente, ou por obras na via pública, ou por outro desígnio paranormal cujo mistério não consigo decifrar. Meu irmão que mora na ilha, é testemunha. Suspeita, é claro, por ser meu irmão, mas insuspeita porque deve estar cansado de minhas rezingas toda vez que chego.

Povo politizado e perspicaz (pessoalmente não gosto do epíteto manezinho que lhe impingiram e que se tornou oficial), pelo menos três fatos me afloram à memória, atestando esses caracteres: na Praça XV foi flagrado um ministro do TST em viagem turística com um carro oficial. A placa original estava escamoteada por uma fria, sobreposta. Foi um bafafá, quase viraram o veículo e o caso acabou na polícia, digo, em pizza (provavelmente).

Agora, nos últimos dias, o levante de estudantes e de outros segmentos sociais usuários de ônibus tomados pela indignação ética e protestando contra o aumento abusivo dos preços das tarifas.

Ali também o ex-Presidente Figueiredo e comitiva descobriram que o exercício do populismo é para quem é popular. Ignoraram e minimizaram vaias de que eram alvo e saíram a pé do Palácio do Governo rumo ao Ponto Chic – o local da assembléia popular permanente mais democrática do mundo, onde um senador que não era senador monopolizava as atenções por sua mordaz ironia – para tomar um cafezinho. Levaram uns trompaços e calçapés e o César Cals, se não me engano Ministro de Minas e Energia, um sopapo no pé da orelha, de um taxista.

Dizem que ele perdeu o equilíbrio e caiu. Foi uma premonição. A Ditadura Militar desabou logo depois.



Publicado no Jus Sperniandi, do autor, no Uol,
em 12/07/2004.
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Um comentário:

  1. Pitaco transcrito do post original:

    [Glauco Damas] [glauco@glauco.damas.nom.br] [http://portugueshoje.blog.uol.com.br]
    Sonho em conhecer o local! Que beleza, Ilton! Quase fui até lá em dezembro, mas acabei indo conhecer Curitiba.

    12/07/2004 19:18

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