sexta-feira, 27 de novembro de 2009

CIRCO NO HAITI

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Em 1970, tempo da Ditadura, criticou-se o General Médici por pretender colher dividendos em virtude da vitória da seleção brasileira na Copa do México.

Antes, nas eliminatórias, ele insinuara que o Dadá Maravilha devesse ser convocado e o técnico, João Saldanha, respondeu à altura: “Eu não dou palpite na escalação do Ministério dele e ele não escala a seleção que eu comando”. Mais ou menos isto.

Foi um ato de coragem. Embora eu só tivesse 18 anos e vivesse nos fundões de Santa Catarina, já conseguia percebê-lo.

Sempre se criticou, de forma velada mas firme, como possível naqueles tempos nublados, os governantes que se aproveitavam de feitos esportivos para lucrar politiqueiramente.

Agora o presidente Lula levou a seleção para o Haiti com fins declaradamente políticos e ninguém critica. Ao contrário, todo mundo aplaude e acha bonito porque levou alegria ao povo de lá, que vive na extrema pobreza! Não deixa de ter sua lógica. Futebol, como vemos aqui, mata a fome.

Vi, ontem, na ESPN, o Robert Scheidt, que conquistou a primeira medalha de ouro nas Olimpíadas para o Brasil, falando por telefone com o presidente. Foi algo demagógico e oportunista.

Pior: o Parreira não vai convocar alguns jogadores para o próximo jogo da seleção como castigo porque não se esforçaram para se liberar de seus clubes, na Europa, para participar da pantomima no Haiti.

Quer dizer: a Ditadura não puniu o João Saldanha (que não merecia punição mesmo) e a Democracia pune aqueles que, talvez até por força contratual, não participaram de um ato político-eleitoreiro e que também não merecem punição. Ou merecem?

Não tenho saudades da Ditadura. Paguei a ela, mais tarde, meu tributo, através de telefonemas anônimos e ameaçadores que recebi quando, já advogado e na oposição, lutei para a realização do sonho de um velho amigo de dotar Taió de uma rádio. Fui, nos limites da minha desimportância, um perseguido político. Mas não pretendo fazer jus a nenhuma indenização oportunista.

Além disto ajudei a fundar, em Taió, o diretório de um partido de oposição de vida efêmera, o PP (depois incorporado ao PMDB), liderado em Santa Catarina pelo então deputado João Linhares. E se fosse reprovado no concurso para Juiz ia ser candidato a vice-prefeito na chapa do PMDB – naquele tempo um partido confiável.

Se tivesse seguido a carreira política talvez hoje entendesse essas contradições ininteligíveis...
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Publicado no Jus Sperniandi, do autor, no Uol,
em 23/08/2004.
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Um comentário:

  1. Pitacos transcritos do original:

    [Carlos Damião] [carlosdamiao@brturbo.com] [http://carlosdamiao.zip.net]
    Hoje, estava trabalhando (em reunião), na hora em que Daiane dos Santos se apresentou. Felizmente, não vi sua queda. Acho-a uma gracinha, ainda mais que a minha filha de quatro anos colocou-a como ídolo, ao lado da Xuxa, do Didi (Renato Aragão) e das Meninas Superpoderosas. Sua derrota me fez relativo bem por várias razões: a) Acabou com o ufanismo global b) Evitou que o Lula telefonasse para ela c) Mostrou que, acima de tudo, Daine é um ser humano, não uma máquina a serviço da Globo. Pausa. O item d representaria apenas a decepção da minha filhota: na escolinha infantil onde ela passa as tardes, todas as crianças foram reunidas para assistir ao desempenho de Daiane. Só isso foi capaz de me comover, de tornar a tarde fria de hoje ainda mais gelada, distante e solitária. Abraços Carlos Damião

    24/08/2004 00:07

    RESPOSTA:
    Olá, Damião: o meu post de amanhã será exatamente sobre a Daiane. Ela é minha vizinha. Quer dizer, os pais dela moram aqui no bairro, embora ele treine em Curitiba. Vai abordar em parte a entrevista que ela deu em seguida à apresentação, quando foi tão natural que desconcertou a repórter da Globo que fez de tudo para arrancar alguma lágrima...

    [Carlos Henrique Delandrea] [ch.delandrea@terra.com.br]
    Como já diziam os Romanos: "Pão e circo para o povo", o único problema é que hoja acabaram com o pão e deixaram só o circo.

    23/08/2004 20:32

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