domingo, 22 de novembro de 2009

O ILUMINADO

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Li, aqui, que o O Iluminado, de Stanley Kubrick foi considerado o filme de terror mais perfeito já realizado, de acordo com uma nova fórmula matemática.

Bem. Não sei se uma fórmula matemática, por mais elaborada que seja, consegue sobrepor-se ao subjetivismo de cada um na mensuração de medos e fobias. Pode ser generalizadamente, mas individualmente óbvio que não.

Mas se trata de um excelente filme mesmo para aqueles que, como eu, não aprecia muito o gênero, mormente quando descai para o lado sobrenatural ou quando os elementos intimidadores são monstros como dinossauros, vampiros ou espíritos malvados.

Nada como o velho Hitchcock e seu suspense escancarado. Esconder-se numa sala escura e assustar crianças é fácil. O difícil é fazê-lo na presença delas, às claras, num salão de aniversário.

Não quero me vangloriar, mas já produzi um enredo em que o consegui. E filmei em Super-8... Quando minha filha completou quatro anos contratei uma pantera cor-de-rosa para animar a criançada.

Foi só ela aparecer e um guri abriu o berreiro e refugiou-se debaixo de uma mesa. O choro contagiou outras crianças e aquela foi a festa de aniversário mais curta que minha filha teve. Quinze minutos depois os convidados tinham debandado e a pantera ficou sentada, num canto, desolada.

O Iluminado é baseado numa obra de Stephen King, de quem nunca li nada. Mas garanto que o filme é superior. O diretor integrava uma minoria capaz realizar um filme melhor do que o romance inspirador. Mas os fãs de King, quando do lançamento, torceram o nariz alegando que o livro havia sido deturpado.

A história é inicialmente singela: um escritor frustrado (Jack Nicholson, numa de suas melhores interpretações) é contratado para manter ativas as caldeiras de um hotel nas Montanhas Rochosas, fechado ao público durante o inverno em razão da intensa precipitação de neve. Acompanham-no a mulher e o filho pequeno. Aproveitaria para escrever um romance há muito projetado.

Mas o isolamento acaba provocando distúrbios mentais imprevisíveis, ou nem tanto, e a paz familiar é quebrada por uma guinada de 180º na conduta do pai que passa a encarar o filho (Danny Lloyd, numa interpretação primorosa e dificílima) como um estorvo...

A mulher, Shelley Duvall, foge completamente ao estereótipo hollywoodiano. Não é nenhuma beldade, o que torna o filme ainda mais natural, sem o glamour artificial das estrelas consagradas (ela foi a Olívia Palito em Popeye).

As locações e paisagens são lindíssimas e valem 50% do filme.

Há cenas assustadoras e vou revelar apenas uma, para não esculhambar a surpresa dos que por acaso se sentirem encorajados a assistir. Não é espalhafatosamente chocante mas atemoriza: a mulher, a certa altura, consegue acidentalmente conferir as centenas de páginas do romance que o marido datilografava (cujo acesso lhe fora negado) e verifica que, em todas, há apenas a repetição constante de uma única frase: “All work and no play makes Jack a dull boy (Muito trabalho e pouca brincadeira fazem de Jack um menino entediado)”. Nas legendas foi traduzida como “Muito siso e pouco riso fazem de Jack um infeliz”.

O final deriva para a paranormalidade. Para o meu gosto, seria melhor um final mais lógico, mas mesmo assim a saída não deixa de ser criativa. Afinal, o roteiro não poderia se afastar do livro-base.

Para quem detesta filmes de terror com citações sobrenaturais o fato de eu ter gostado é indicativo de que é realmente um bom filme. Ou não!

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Publicado no Jus Sperniandi, do autor, no Uol,
em 07/08/2004.
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3 comentários:

  1. Pitacos transcritos do post original:

    [Glauco Damas]
    Adaptações de livros geralmente não agradam. Tudo bem que são meios diferentes, nem sempre compensa ou nem sempre é possível ser totalmente fiel, mas compensa citar uma coisa interessante... Até hoje, a adaptação mais fiel que já vi foi do clássico do terror O BEBÊ DE ROSEMARY. Praticamente 100% fiel. Leiam primeiro o livro de Ira Levin, depois aluguem o filme. Fiquei impressionado com a preocupação do roteirista em se manter fiel. Outra coisa curiosa: uma adaptação acabar sendo melhor que o livro. Penso assim de O ADVOGADO DO DIABO, ótimo livro de Andrew Niederman que virou um duas vezes ótimo filme com Al Pacino. O final do filme é diferente, só que mais criativo! Costuma ser o contrário...

    08/08/2004 01:58

    [Glauco Damas] [http://portugueshoje.blog.uol.com.br]
    Por coincidência, terminei de ver o filme MELHOR É IMPOSSÍVEL, com o mesmo Jack Nicholson, e vim para seu blog. Realmente, o filme é muito bom, e também acho "especial" a cena em que a mulher lê as páginas datilografadas. Devo dizer, no entanto, que o filme não está à altura do livro. Não sou fã de King (nem de longe sou), mas esse livro eu li e gostei. Apesar de ter gostado também do filme (vale a pena ver!), prefiro o livro. Claro que é difícil uma adaptação ser totalmente fiel a um livro; são meios diferentes de contar uma história. Os fãs de King torceram o nariz. Para minha surpresa, soube HÁ POUCOS DIAS que o próprio King DETESTOU o filme. Vi uma entrevista com o autor. Ele afirma, abertamente, que detestou, e faz duras críticas a Kubrick. (Em tempo -- na mesma entrevista, King diz que o problema na visão só piora, e ele já se prepara psicologicamente para ficar cego! Triste!) Repito: adorei o filme, recomendo, inclusive vi de novo há poucos dias no HBO. Mas o livro é melhor...

    08/08/2004 01:52

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  2. Anônimo1/3/11 02:15

    melhor filme de terror que já foi ou vai ser filmado, Stephen king é um genio e o livro realmente é MUITO MELHOR

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  3. vc é muito mala!!!

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