sábado, 7 de novembro de 2009

UM PAÍS DE POBRES

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Enquanto houver cientistas políticos, economistas, governantes e órgãos de imprensa que aceitam que a classe média brasileira é formada por uma parcela da população que percebe entre R$ 1.800,00 e R$ 7.200,00 (Revista VEJA de 10/03/2004, pág. 50), equivalentes a US$ 600.00 e US$ 2,400.00, não haverá premissa básica de salvação econômica para este país. Esse é mais absoluto reconhecimento de nossa pobreza como nação, a prova cabal de nossa miséria sócio-econômica.

Enquanto houver quem defenda que R$ 2.800,00 é o máximo ideal e satisfatório para um aposentado que, antes, na ativa, recebia pelo menos um centil a mais, estamos acatando a pobreza crônica que nos assola, a necessidade de os aposentados não se aposentarem nunca, mesmo que oficialmente aposentados, aumentando a dificuldade do ingresso de forças mais jovens no mercado de trabalho, porque seus lugares estão ocupados.

A crença é absolutamente enganosa e enganadora e o Brasil se encaramuja numa pequenez econômica e num conformismo diametralmente opostos à sua grandeza territorial. Estamos decidindo ser um país isolado, porque os trabalhadores percebem ninharias e se os tenta convencer de que estão ganhando bem. Isto é o pior de tudo porque embota o senso crítico, retira o poder de comparação e rebaixa o cidadão a um nível injusto e perverso do qual ele não tem consciência.

O topo da pirâmide salarial do Brasil é formada por 4,5% dos brasileiros mais ricos (há dez anos era de 6%), que percebem, em média, R$ 5.100,00, ou US$ 1,700,00, segundo a mesma matéria.

Este acinte serve para mostrar que nosso poder de competição está irremediavelmente comprometido, que mesmo esses ricos privilegiados não teriam condições de sobreviver, com essa remuneração, por mais de alguns meses em qualquer país desenvolvido do mundo porque o que percebem é insuficiente para satisfazer suas necessidades básicas fora daqui.

Nessa linha de pensamento, como poderemos negociar vantajosamente com outra economia se a nossa pobreza é crônica e extravasa os meros limites de nossa vida aquém fronteiras para se projetar negativamente pelo resto do mundo? Não temos condições de ser banca, pois estamos aprioristicamente quebrados e, nesse jogo, nem temos cacife como apostadores.

É óbvio que não adianta equiparar, como já se fez, o real ao dólar, porque não é isto que voga. Se R$ 1,00 valesse US$ 1,00, como outrora economistas ingênuos estabeleceram como solução para nossa balança comercial, a situação seria idêntica. Nosso patamar reconhecido de riqueza seria ainda entre US$ 600.00 e US$ 2,400.00, como se viu no início, e as nossas dificuldades seriam as mesmas.

Talvez seja hora de pensar menos em termos de PIB, de macroeconomia, e de teorias mirabolantes, e fazer com que os níveis inferior e superior demarcadores de nossa classe média se elevem a valores mais condizentes com o próprio conceito de classe média. Porque a nossa, do jeito que está, não suplanta os níveis de pobreza na maioria dos países estáveis do mundo. Neles, ela seria considerada classe pobre mesmo.

Para isto é preciso que o Governo Federal abdique de sua fome escancarada e animal pela arrecadação (o dinheiro que arrecada não reverte em favor do povo mesmo) e permitir as coisas fluírem mais naturalmente, mais livres e menos controladas. Um exemplo: corrigindo a tabela do Imposto de Renda. Outro: reduzindo a pesada carga tributária que incide sobre as empresas, principalmente os encargos sociais (a maioria vem sendo sonegada e a redução propiciaria, em contraposição, uma arrecadação maior).

Isto resultará, automaticamente, em maior circulação de riquezas, em maior capacidade de compra, em possibilidade de criação de empregos naturalmente – e não artificialmente – para os jovens, com o poder de puxar os mais pobres para degraus mais acima.

Um trabalhador arcar com quatro meses de seu salário anual para impostos é uma impostura – sem trocadilho – absurda e infame. Boa parte desse dinheiro poderia permanecer no ambiente social e servir para impulsionar o poder de compra e a economia interna.

É possível que, num primeiro momento, soframos um período de adaptação já que, lamentavelmente, a visão de muito de nossos industriais e comerciantes não é das mais generosas nem altruístas e muitos se aproveitariam para remarcar preços para cima e isto poderia projetar alguma inflação.

Mas até isto faz parte do jogo e o efeito desencadeante fará com que também sejam elevados, aos poucos, os níveis de nossa riqueza e depois de algum tempo, com o andar da carruagem, as coisas se acomodariam e os resultados, em médio prazo, seriam positivos.

Pior é ficar como está, os preços subindo e o poder de compra recuando. Engana-se quem pretende que inflação e aumento do custo de vida sejam uma mesma e única coisa. Inflação é o excesso de dinheiro no mercado e pouca coisa para consumir; o aumento de custo de vida projeta exatamente o contrário: o excesso de produtos e a falta de dinheiro para adquirir.

A matéria da VEJA, compilada por Mônica Weinberg, aponta que a perda do nosso poder de compra chega a abismais (sic) 25% enquanto que, segundo o Dieese, desde 1997 o custo de vida aumentou 72%. Especialmente os itens educação e saúde (dever do Estado) contribuíram, para tanto, em respectivamente 92% e 147%. Isto resume a nossa miséria franca e conformada.

Foi-se o tempo em que se dizia, jocosamente, que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Os “ricos” estão empobrecendo também. Com eles a nação inteira. E não se pode esperar que um país seja rico se o seu povo é pobre.



Publicado originalmente em blog do mesmo nome, no Uol,
em 14/06/2004.
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Um comentário:

  1. [anja] [www.anjaazul.blogspot.com]
    Voltando pra comentar! Essa gravura tem muito a ver com minha indignação com o SUS.

    16/06/2004 23:18

    [anja] [www.anjaazul.blogspot.com]
    Viva! Que boa surpresa! Seja bem vindo ao mundo blogueiro! Adorei ...vou visitar muito! Um blog de peso! bjosssss

    16/06/2004 01:07

    [Silvia Fernandes] [ideia10@brturbo.com]
    Gostei! A diagramação da página também ficou por sua conta? As cores e a disposição estão bem legais. A dica do site do observatório de imprensa é quente. Parabéns, vou visitar o BLOG outras vezes.

    15/06/2004 23:28

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