segunda-feira, 23 de agosto de 2010

POUCO RISO POUCO SISO II

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Os políticos, que poderiam modificar a regra (infelizmente não para as próximas eleições) parecem ter interesse na sua manutenção e, assim, assegurar o monopólio da caricaturação. Têm o senso exato de que a caricaturação da caricatura pode se tornar algo sério e sem graça e isto sim poderia prejudicar sua imagem. Caricaturescos, querem manter o privilégio de ser os únicos com poder de caricaturar, mister no qual são, efetivamente, insuperáveis.

O riso é um predicado humano que nos diferencia dos animais. Mas é, por muitos, considerado uma arma capaz de balançar estruturas, comprometer doutrinas e, no Brasil de hoje, desequilibrar campanhas eleitorais. Pelo menos pelos que o proibem.

No final de 1327, na denominada Alta Idade Média, num mosteiro beneditino na Itália, num lapso de oito dias, sete monges apareceram mortos, quase um por noite. Em comum, apresentavam os dedos e a língua roxos. O monge franciscano William de Baskerville, encarregado de investigar os crimes, descobriu que um dos livros, cuja leitura era vedada aos monges comuns, tinha suas páginas impregnadas com um poderoso veneno que o leitor levava à boca quando molhava os dedos para folhear as páginas.

O livro, atribuído a Aristóteles, pregava a redenção pelo riso e pela desdenha, o que era considerado perigoso por uma determinada parcela de próceres católicos que acreditava que o bom humor e o riso afastavam das pessoas o temor a Deus e isto, em suma, poderia provocar a ruína do mundo, especialmente do católico.

Bem! Si non é vero é bene trovato. O enredo, aqui bastante resumido e superficial, é do livro O Nome da Rosa, de Umberto Eco, que retrata a dissensão na Igreja Católica numa época negra do Catolicismo, a Inquisição.

Nossos políticos e legisladores, em termos de propaganda eleitoral, vivem ainda na idade das trevas da Itália de 1327. Impedem o uso do humor face ao elevado risco de quebra de equilíbrio de forças eleitorais. É a conclusão a que se pode chegar, já que a proibição, como visto no post anterior, perdura desde 1997, seis eleições já foram realizadas sob seu império e nunca foi alterada. É uma visão enviesada que retira de cartunistas, humoristas televisivos, chargistas, piadistas e comediantes um rico filão para o exercício de sua verve.

Se o humorismo definisse o resultados das eleições, Chico Anísio seria presidente vitalício do brasil.

Nos Estados Unidos, um povo carrancudo e frio, esse tipo de abordagem é permitido e utilizado com desenvoltura, e não se sabe de candidato que tenha perdido eleição pelo bom humor da mídia. No Brasil, o país do carnaval, de um povo alegre, até irresponsável, não pode. Há que se resguardar uma falsa imagem de nossos políticos que devem permanecer ingozáveis.

Por outro lado, as promessas, mentiras e aleivosias dos programas gratuitos são tão tristes e atemorizantes que às vezes chegam a ser cômicos, mas de uma comicidade sombria e mórbida.  Estou chorando desde o primeiro.

É isto que deveria ser objeto da lei: os políticos deveriam ser proibidos de nos fazer chorar, e isto não apenas em tempo de campanha.
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Um comentário:

  1. A questão é que lá nos USA o humorismo atinge outro tipo de escorregada dos políticos. Aqui seriam dezenas e dezenas cópias da mesma piada, nossos políticos roubando e o povo pagando.

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