terça-feira, 14 de setembro de 2010

NA ÓRBITA DA ARAPONGAGEM I

Publicado originalmente em 03/09/2008

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Não gosto de analisar nada no calor dos fatos, como se diz em direito para indicar acontecimentos recentes e ainda não esclarecidos. Prefiro deixar baixar a poeira e as circunstâncias se tornarem visíveis o que, se por um lado pode me jogar a pecha de temporariamente omisso, ou até de covarde, por outro impede, e isto é mais importante, juízos injustos, desproporcionais e apaixonados e, particularmente, de ficar uivando pra lua como um cão danado.

Por isto, de propósito, não abordei ainda a polêmica fabricada da interceptação telefônica do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, que muitos anunciam como o início do caos e da instauração do estado policialesco e que, a meu ver, acabará num malcheiroso traque.

A Diretoria da Abin foi afastada sem que a seu favor vigorasse a presunção de inocência, tão cara ao STF. Ainda bem. Mas se fossem sempre usados isonomicamente esses critérios Lula já estaria cassado há muito. É bom prevenir que um dos novos diretores da Abin trabalhou para Daniel Dantas. Tarso Genro respira aliviado.

Hoje abordarei alguma coisa, sem aprofundar minha visão arapongageme, na medida do possível, sem emitir um juízo de valor sobre a composição nuclear do fato, ainda obscura para mim. Ainda não vejo como responder, com alguma segurança, a quem interessa tudo isto.

Antecipo ser contra interceptações telefônicas ilegais, não importa se a vítima seja um empresário, um comerciante, um magistrado aposentado ou o ministro presidente do STF. Mas sou a favor quando, em face de investigações, a polícia a requer para clarear a verdade dos fatos e um juiz fundamentadamente a defere. Não importa se o indiciado for um empresário, um comerciante, um magistrado aposentado ou o ministro presidente do STF.

Mas há certas ilações que não consigo engolir, por seu exagero. Como a de que esse fato representa a instauração de um estado policialesco, militar. Ainda não chegamos lá e não vai ser através de interceptações telefônicas de autoridades do alto escalão, de qualquer poder, que chegaremos.

Há outras coisas mais importantes, vedações impostas diariamente, leis absurdas e casuísticas, autoritarismo, enfim, um processo de verdadeira lavagem cerebral a que a maioria dos brasileiros está sendo submetido e que os faz acreditar que tudo vai bem, que não importa se restrinjam o direito dos outros (esquecendo-se que também entram no rol dos restringidos) e que nos farão chegar lá independentemente de qualquer  .

Eu diria, até, que é possível que cheguemos a um estado policialesco e militar apesar de fatos como este que, em última instância, servem apenas para desviar atenções e massagear nossa altaneira qualificação de deslumbrados por pequenas causas.

O brasileiro acredita em determinismos, empíricos ou científicos, de qualquer natureza. Mais nos empíricos do que nos científicos. É a nossa vocação fatalista e nos transforma, de um lado, em amplificadores de pequenezes, e de outro, em medrosos e reduzidos à impotência ao quadrado.

Somos a caravana que ladra em razão do fato do dia esquecendo que os fatos do dia a dia, menos estrondosos, é que são importantes. Os cães não largam de nossas pernas, vão nos dominando mas estamos anestesiados de indignação por um fato menor que não é causa, mas conseqüência.

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Um comentário:

  1. Eu imagino que já estamos em um estado policialesco. Não digo que seja de propósito, até pq atribuo a trapalhada na receita, por exemplo, a uma visão oportunista burra, isto é, um bando de pamonhas achou que conseguindo informações privilegiadas poderiam vendê-las aos ávidos petistas aloprados. Mas que as declarações recentes indicam um caminho reto para isso, indicam, e a oposição (ahahahah onde? onde?) só ladra.

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