Vivemos no
jornalismo televisivo um deliberado derramamento de lágrimas. Nunca se debulhou
tanto choro principalmente nas olimpíadas e, mais recentemente, nas paralimpíadas
(acho correto paraolimpíadas mas parece que o evento é registrado com a
primeira forma; contra certas ignorâncias não há argumentos).
Mas o fenômeno
não é recente. Em 30/07/2009 publiquei no meu blog, então pelo UOL, o texto
abaixo que, infelizmente, ainda é atual:
JORNALISMO E JORNALISTAS
Critico muito a Imprensa. Não
gosto de certos modos de transmissão de notícias e informações, calcadas na
maioria das vezes no sensacionalismo e em aspectos mórbidos da matéria
enfocada. Também detesto a imprensa lacrimogênea, que provoca jorros de lágrimas
na telinha para emocionar. Podem reparar: a palavra mais falada e repetida hoje
em dia, principalmente nas entrevistas, é emoção. O
objetivo é arrancar o choro do entrevistado.
Tive um aparelho de tevê que sucumbiu às
lágrimas de atletas, bandidos, vítimas, mães de vítimas, pais de vítimas, pais
de réus e outros chorões, como o Pelé, o Romário e até o Alexandre Frota (acho
este foi a gota d’água, digo a gota de lágrima). Foi tamanha a molhaceira que
provocou um curto-circuito e alguns transistores queimaram as roscas. Como
todos sabem, a lágrima é rica em cloreto de sódio e isto aumenta a condução da
eletricidade.
Nas reportagens de hoje os repórteres
garimpam lágrimas como demonstração lídima da emoção certamente porque alguém
do ramo concluiu que o choro aumenta pontos no Ibope e isto deve ser verdade.
Aqui em casa não funciona. À primeira
percepção de choramingo uso o melhor de todos os aparelhos de comunicação de
massa: o controle remoto. Baixem o meu pontinho do Ibope aí, quem quer que
seja.
Há vinte anos era exceção um homem chorar na
frente das câmeras. Hoje isto se tornou mais comum que rir, mesmo nas alegrias.
O carinha, aquele, ganha uma medalha de bronze e desaba numa choradeira como se
tivesse sofrido uma desgraça. E haja coração! Eu
daria gargalhadas de prazer.
Não há nada que
desabone a dignidade de um homem que chora, independentemente de sua
corporatura. Mas não é preciso chorar sempre ou por ninharia. Isto desmoraliza
o instituto emocional do pranto.