Publicado originalmente em 09/09/2005
.
O deputado Fernando Gabeira, um político articulado e experiente, foi endeusado porque anunciou um “golpe de Estado” na Câmara para derrubar o presidente Severino Cavalcanti. O cavalo passou encilhado e ele, oportunista, o montou.
Apesar das evidências que ilustram as denúncias de corrupção no Governo nenhum parlamentar teve coragem de fazer o mesmo em relação ao presidente Lula. Porque isto seria incompatível com o status democrático e atentaria contra a ordem institucional vigente.
Antes que comecem a pensar mal de mim esclareço que não vejo com bons olhos a presença do Severino no cargo que ocupa. Não é, seguramente, capacitado às funções. Ele é despreparado e poucas vezes preside sessões. Geralmente, delega a missão a outro deputado porque, já deu para perceber, se atrapalha com os papéis colocados na sua frente e com o microfone.
No entrevero com o Gabeira demonstrou toda sua limitação. Ao invés de continuar a discussão no mesmo nível, descambou para frases feitas de antigos rábulas e oradores ultrapassados: “O senhor recolha-se à sua insignificância”. Atrapalhou-se, cuspiu-se todo, procurou uma resposta à altura, mas só conseguiu acrescentar: “Porque eu não admito isto...” Falta-lhe articulação e parece que esquece no minuto seguinte o assunto em pauta no minuto anterior. Decrepitude, eu diria.
Entretanto ele foi eleito democrática e legitimamente e quem o elegeu o conhecia. As regras democráticas não devem mudar ao sabor de interesses.
Ele valeu como demonstração de força e independência da Câmara em relação ao Governo do PT, que apoiava o Greenhalgh. Agora não serve mais porque se relevou um grande aliado do Governo, defendeu punição mais branda aos deputados envolvidos com o mensalão (que compõem a base aliada) e recebeu uma comenda do presidente. Talvez isto incomode deputados como Fernando Gabeira.
Nesse jogo duvidoso surge a história do mensalinho, em que há apenas acusações não comprovadas. O que mais estranho, nesse processo todo, é que aqueles que dizem que Marcos Valério, Delúbio e Silvinho mentiram são os mesmos que crêem ardorosamente que Sebastião Buani falou a verdade. Os critérios de aferição da credibilidade mudam de acordo com os interesses e assim caminha nossa Democracia.
Finalmente o mais importante: o presidente da Câmara não tem poder decisório maior. Suas funções são administrativas. A maioria das decisões é tomada em plenário ou nas comissões e ele não detém poder de veto. Aliás, se há alguém que decide pouco, esse é o presidente. Então, por mais desastrosa que possa ser sua gestão, ela só vai se refletir em prejuízo do povo e da nação se os deputados concordarem.
Ele defender, como defendeu, um apenamento brando aos cassáveis não quer dizer absolutamente nada, a não ser tornar pública sua distorcida visão dos fatos. Não é ele que decide pela cassação nem poderá obstá-las.
Os que elegeram essa figura atrapalhada e trapalhona como Presidente da Câmara, porque então lhes serviu, estes sim nos devem explicações, pelo atraso de vida que nos ocasionaram.
Tão negativos e prejudiciais quanto elegedores descerebrados são os pregadores do golpe sem critério, principalmente quando se confundem uns nos outros e formam um mesmo organismo – no caso, uma câmara representativa do povo.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dê o seu pitaco: