Vocês viram a
cantora Rihana? Ela trocou de roupa dentro de um carro. Quanto vi a chamada no
portal do Uol, me interessei e vi o vídeo. O que ela fez foi fichinha perto do
que eu fiz: ela é magra, tinha espaço suficiente no interior de uma limusine
imensa e, além de tudo, deve ter ganho uma nota preta. Eu, quando prestava
concurso para Juiz em Porto Alegre pesava 116 kg, troquei de roupa no interior de um
fusca (táxi) e não ganhei absolutamente nada.
Ela deve ter se
divertido. Para mim, agora, o meu caso pode parecer engraçado, mas aquelas
horas foram angustiantes. Só mais tarde eu ri.
Vim a Porto
Alegre para uma entrevista com um desembargador. Eu tomava o ônibus às 22,00
horas em Pouso Redondo, perto de Taió, e vinha por Lages, Vacaria, São Marcos,
Caxias do Sul... Chegava por volta de 7,30 horas.
A Penha naquele
tempo só colocava ônibus vencidos
nessa linha, sem calefação ou ar condicionado, e no inverno padecia-se muito
frio na serra. Eu vestia, por baixo, dois pares de meia, ceroulas, blusas e
forrava o tênis com jornal.
(Numa viagem
fiquei condoído com o sofrimento de uma moça desprevenida, não habituada ao
itinerário. Ela tremia, coitadinha, e até dividi com ela a manta que
previdentemente trazia).
Cheguei e fui a
uma farmácia comprar sabonete para tomar banho – a rodoviária dispunha de
chuveiros – e vestir a fatiota para bem impressionar o entrevistador. Então percebi
que esquecera a leva-tudo no ônibus, com a documentação e o dinheiro.
Apavorei-me.
Voltei o mais
rápido possível. Era tarde: o ônibus fora levado à garagem, no Bairro
Navegantes, que eu nem sabia onde ficava.
Convenci um
taxista a me levar até lá. Prometi o meu relógio se não conseguisse recuperar o
dinheiro.
Na garagem o
atendimento demorou. Estavam limpando o ônibus. Suspirei aliviado quando a
servente entrou no escritório com a carteira. Logo a apontei para a atendente
que pediu um documento para comprovar. Repeti, um tanto surpreso, que os meus
documentos estavam todos no interior
da leva-tudo.
Boa vontade
nunca foi predicado de quem cumpre rotinas ordinárias e as vê quebradas por
circunstâncias ocasionais exigentes de um esforçozinho pouco além do
usual. Mas minha carteira de identidade era de 1977, estávamos em 1981, e não
havia muita diferença entre a minha fachada e a foto. Tive que assinar uns
papéis mas o pior fora vencido.
Eu que
pensava! A entrevista fora marcada para as 9,00 horas e já eram 8,30. Eu me
sentia desconfortável por uma noite mal dormida. Os cabelos sebosos exigiam
banho. Mais do que isto, precisava trocar de roupa.
Perguntei ao
taxista quanto demoraria até o Tribunal. Se tudo transcorresse bem, uns vinte
minutos. Não dava para fazer mais nada.
O táxi era um
fusca, graças a Deus sem o banco do caroneiro. Eu, como já disse, pesava 116
kg, na época. Mas não tive dúvidas:
– O senhor
dirija, por favor, o mais rápido possível e não se assuste com o que vai
acontecer aqui. Tenho uma entrevista importante às 9,00 horas e sou obrigado a vestir
um terno.
Fui tirando a
roupalhada que vestia. Foi difícil naquele espaço exíguo, mas consegui me
trocar. A cada gemido que eu dava o taxista me olhava pelo retrovisor, mais
desconfiado que bode em canoa...
Cheguei em cima
da hora, com um garbo ressabiado, aparentando naturalidade, de terno e gravata.
Com a mala nas mãos mais parecia um mascate do que um candidato a juiz.
Deixei-a na Portaria do Tribunal e subi para a entrevista que transcorreu
normalmente, tanto que passei no concurso.
Nada contei ao
entrevistador. Para um novato não ficava bem ir logo relatando intimidades.
Poderia ser mal interpretado e pôr minha carreira em risco. Em cabeça de juiz
não se deve confiar.
.
.
Quem dera hoje essa garotada desse tamanha importancia a uma entrevista de emprego, mesmo correndo o risco de se trocar dentro de um fusca, ah, esqueci que hoje eles ja nao andam mais de fucas rs boa sua lembrança, gostei, ja passei por varias ate alcançar o sonho almejado rs
ResponderExcluirAdriana
adriana34_ssp@hotmail.com
deliciosa história
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