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Nunca entendi porque o Estado precisa de publicidade. Ao mesmo tempo,
não sei se os órgãos de imprensa que recebem subvenções oficiais têm liberdade
suficiente de discutir os problemas desse anunciante com objetividade e isenção
crítica.
Propaganda e publicidade são modos de persuadir o público em geral sobre
determinado bem da vida que se oferece, demonstrando sua qualidade e benefícios
para sobrepô-lo a eventuais concorrentes ou para aumentar vendas.
O Estado não dispõe de nenhum produto que tenha similar no mercado que
precise de publicidade. Ele exerce suas funções através de autarquias e
empresas públicas sem concorrentes e tem meios de divulgar sua atividade –
necessariamente a busca do bem comum – através de A Voz do Brasil, por exemplo,
e ainda das emissoras de tevê do Executivo, do Legislativo (Câmara e Senado) e
da Justiça e nos sítios de seus órgãos na Internet. Além disto, o Café com o
Presidente (agora com a Presidenta). Talvez o que falta, mesmo, seja material
convincente.
No Rio Grande do Sul, há alguns anos, a CRT – empresa telefônica do
Estado – era uma grande anunciante. Anunciava na mídia e patrocinava um ou dois
programas de rádio. Mas inexistia disponibilidade técnica de linhas telefônicas
e se você precisasse de uma tinha que recorrer ao mercado negro. Então, para
que a propaganda enganosa? Para inibir a publicação de críticas desfavoráveis
pelos órgãos beneficiados. Parece óbvio que é extremamente desconfortável ao
patrocinado criticar o patrocinador.
Jornais, periódicos, revistas, portais da internet, todos sobrevivem das
subvenções – vamos chamar propositalmente assim – de seus anunciantes, mais do
que das assinaturas de seus assinantes ou da compra avulsa de exemplares pelos
interessados. Estes, naturalmente, compram o exemplar mais pelo seu conteúdo do
que pela publicidade.
Carta Capital é uma revista chapa branca e, pelo que sei, a única
convicta e confessa.
Na edição do dia 07 de setembro há uma profusão de propaganda estatal
melhor seria dizer “governamental”: já de início, duas páginas de um anúncio do
Governo Federal: “O Brasil está em boas mãos!” Nas páginas 6/7 o BNDS, uma empresa pública federal, compartilha uma
propaganda de caminhões Volkswagen. Nas folhas 18/19 um anúncio do Governo do
Rio de Janeiro: “somando forças, “marca registrada do Brasil”. Um pequeno texto
dizendo obviedades ufanistas que, objetivamente, não dizem nada. Nas folhas
26/27 um anúncio da Caixa Econômica Federal. Nas folhas 39/40 um anúncio da
Eletrobrás: “sustentabilidade é saber que uma usina hidrelétrica e o meio
ambiente são uma coisa só”. Esse anúncio é
integralmente repetido, igualzinho, nas folhas 62/63... Nas folhas 66/67 um da
Petrobrás: “A Petrobrás já é a quarta empresa mais lucrativa das Américas” e “O
barril da eficiência está valendo muito”.
Há, ainda, um Relatório Especial, com
ares de reportagem, mas que é indisfarçavelmente um relatório ufanista oficial
sobre hidrelétricas na Amazônia, que ocupa nada mais nada menos do que vinte
páginas...
Qual a finalidade dessa propaganda oficial? Qual a mensagem importante
que o Governo quer transmitir em cada um desses anúncios de duas páginas ricamente
coloridas numa revista semanal, um deles inexplicavelmente repetido? O que nos
aproveita essa propaganda vazia e sem objetivo prático que poderia ter sido veiculada
pelos meios oficiais com os mesmos efeitos? Para inibir a publicação de
críticas desfavoráveis aos órgãos anunciantes? Parece óbvio – repito – que é
extremamente desconfortável ao patrocinado criticar o patrocinador. Isto para
dizer o menos.
Sabemos quem paga os
custos dessa publicidade. Nós, contribuintes, que carregamos nos ombros o
gigantismo do Estado e sofremos com sua ineficiência crônica nos campos da
Saúde, dos Transportes, da Segurança e da Educação. Mas que vemos nessa
publicidade um Estado perfeito e pujante um jeito de jogar areia colorida em
nossos olhos. Estamos pagando para que nos enganem.
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Ilton, eu não pago! Quando sou enganada é de graça mesmo. ;-) Gostei demais do seu blog e já coloquei entre meus favoritos. Cheguei aqui atrás de confirmação de sua carta de 2008 para Ziraldo e Jaguar. Por que o pessoal da esquerda não protesta agora contra a corrupção e o nepotismo? Só é roubalheira quando praticada pelo pessoal do outro grupo? Um abraço, Stella.
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