A
sensação que tenho é catastrófica. Não é possível que alguma coisa não
aconteça. Essa evolução cibernética um dia vai sugar a humanidade para um
redemoinho de confusão tanta que não haverá saída, pois o vértice desse
redemoinho é invisível, imponderável e inestimável. A humanidade será
nocauteada por seu próprio engenho e se verá podada da compreensibilidade —
notem, não estou falando de compreensão, que é bem menos grave — dos fatos.
Porque
as coisas estão caminhando no sentido de uma automatização tal que não
conseguirá se distinguir o certo do errado — nem falo de Bem e de Mal — e
acabará decretando sua própria morte cerebral. Seremos reduzidos apenas a
instintos e reflexos, como os animais, e não saberemos o que fazer diante de um
simples zíper estragado porque ele era
automatizado.
Não
falo de extinção física, mas de descerebramento mesmo. Não é possível que tudo
continue neste ritmo, que o atual de agora seja o ultrapassado de daqui a
pouco, que este micro que atende às minhas necessidades seja, logo, um ferro
velho ultrapassado e cujo hardware
não satisfará mais as necessidades de softwares
que surgem todos os dias com mais exigências, com mais abrangência, com mais
imposição e necessidade de aceitação. Ou seria o contrário?
Ou será
por aí que se vai ao mais absoluto e perfeito modo de dominação das mentes até
agora nunca conseguido por nenhum Governo, por nenhum sistema, por nenhum
visionário, por nenhuma doutrina ou escola ideológica? Não sei, porque isto
escapa ao meu nível de compreensão.
Temo que
talvez o caminho seja por aí: a humanidade será dominada por aquilo que criou e
que a superará, não pelos caminhos da inteligência artificial, de que tanto se
fala e pouco se entende, mas pelos caminhos da desinteligência pura das coisas
simples e básicas.
Algo
inexplicável, uma loucura cibernética, um redemoinho de chips e pentes de memória, não na sua compleição física, mas na sua
capacidade armazenadora, aquilo que chips
e pentes de memória trazem na sua alma é que provocará o descalabro.
Você
entendeu o que eu quis dizer? Talvez não. Talvez tenha entendido um pouco.
Talvez me julgue esquizofrênico ou idiota. Talvez imagine que são meras
palavras, mas asseguro que não. É um sentimento que me assoma às vezes, ou para
reforçar a palavra com um estrangeirismo — os estrangeirismos sempre têm mais
força —, é um feeling de que algo
está errado mesmo tudo parecendo sincronizado dentro da mais perfeita ordem.
Esse feeling me assalta de vez em
quando...
Confesso
que também não entendo direito o que disse e quis dizer. É algo que não consigo
expressar com precisão, embora um professor de Filosofia me afirmasse, certa
vez, que o homem é capaz de traduzir tudo o que sente através de seu
vocabulário.
Eu,
neste momento, não consigo. Não consigo exprimir o que sinto diante dessa
concreta inexorabilidade.
Talvez
seja exatamente isto que estou querendo
dizer (não o que estou dizendo,
por favor, percebam a diferença).
Publicação original: 14/11/2007, no blog antigo.
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