quinta-feira, 12 de novembro de 2020

PARA ONDE VAMOS?

 

A sensação que tenho é catastrófica. Não é possível que alguma coisa não aconteça. Essa evolução cibernética um dia vai sugar a humanidade para um redemoinho de confusão tanta que não haverá saída, pois o vértice desse redemoinho é invisível, imponderável e inestimável. A humanidade será nocauteada por seu próprio engenho e se verá podada da compreensibilidade — notem, não estou falando de compreensão, que é bem menos grave — dos fatos.

Porque as coisas estão caminhando no sentido de uma automatização tal que não conseguirá se distinguir o certo do errado — nem falo de Bem e de Mal — e acabará decretando sua própria morte cerebral. Seremos reduzidos apenas a instintos e reflexos, como os animais, e não saberemos o que fazer diante de um simples zíper estragado porque ele era automatizado.

Não falo de extinção física, mas de descerebramento mesmo. Não é possível que tudo continue neste ritmo, que o atual de agora seja o ultrapassado de daqui a pouco, que este micro que atende às minhas necessidades seja, logo, um ferro velho ultrapassado e cujo hardware não satisfará mais as necessidades de softwares que surgem todos os dias com mais exigências, com mais abrangência, com mais imposição e necessidade de aceitação. Ou seria o contrário?

Ou será por aí que se vai ao mais absoluto e perfeito modo de dominação das mentes até agora nunca conseguido por nenhum Governo, por nenhum sistema, por nenhum visionário, por nenhuma doutrina ou escola ideológica? Não sei, porque isto escapa ao meu nível de compreensão.

Temo que talvez o caminho seja por aí: a humanidade será dominada por aquilo que criou e que a superará, não pelos caminhos da inteligência artificial, de que tanto se fala e pouco se entende, mas pelos caminhos da desinteligência pura das coisas simples e básicas.

Algo inexplicável, uma loucura cibernética, um redemoinho de chips e pentes de memória, não na sua compleição física, mas na sua capacidade armazenadora, aquilo que chips e pentes de memória trazem na sua alma é que provocará o descalabro.

Você entendeu o que eu quis dizer? Talvez não. Talvez tenha entendido um pouco. Talvez me julgue esquizofrênico ou idiota. Talvez imagine que são meras palavras, mas asseguro que não. É um sentimento que me assoma às vezes, ou para reforçar a palavra com um estrangeirismo — os estrangeirismos sempre têm mais força —, é um feeling de que algo está errado mesmo tudo parecendo sincronizado dentro da mais perfeita ordem. Esse feeling me assalta de vez em quando...

Confesso que também não entendo direito o que disse e quis dizer. É algo que não consigo expressar com precisão, embora um professor de Filosofia me afirmasse, certa vez, que o homem é capaz de traduzir tudo o que sente através de seu vocabulário.

Eu, neste momento, não consigo. Não consigo exprimir o que sinto diante dessa concreta inexorabilidade.

Talvez seja exatamente isto que estou querendo dizer (não o que estou dizendo, por favor, percebam a diferença).


Publicação original: 14/11/2007, no blog antigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dê o seu pitaco: