sexta-feira, 30 de setembro de 2011

E AINDA FALAM EM IMPUNIDADE!

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São cada vez mais freqüentes as notícias de cidadãos de bem punidos por infrações muito menos graves, puramente administrativas, do que os larápios que cometem delitos às vezes pesados e têm o privilégio de aguardar anos e anos soltos até o julgamento e muitas vezes, no final, são premiados com uma brilhante prescrição.
Isto revela uma face do Estado Brasileiro que destina valores elevados na instalação de serviços em que pode sacanear o contribuinte e auferir um lucrozinho extra nem sempre destinado para onde deveria, em detrimento de outras aplicações que nos daria pelo menos uma sensação de maior segurança como a construção de presídios, por exemplo. Mas esta é uma atividade não rentável, sem retorno financeiro e por isto sem prioridade.
As multas de trânsito são as meninas dos olhos brilhantes dos nossos governantes e sobre as quais repousam cobiçosos anseios arrecadatórios. Na sua cobrança a atuação do Estado é impecável. Nunca há falta de recursos e meios para arrecadar.
Infrator da lei é um quase-bandido que infringiu alguma regra do Direito, a base reguladora da ordem social, e por isto merece pena. Se você, num domingo à tarde, no período de férias escolares, cruzar a 50 km por hora uma lombada eletrônica defronte a um colégio fechado que estipula velocidade máxima de 40 km, sofrerá uma multa de 120 UFIRs. Já se você esfaqueou seu vizinho e produziu-lhe lesões leves poderá ser até perdoado ou pagar uma cesta básica como pena e fica tudo por isto mesmo. É menos grave lesionar um vizinho – um delito de resultado concreto – do que cruzar uma lombada eletrônica a 50 km por hora sem risco a ninguém – uma infração administrativa sem resultado.
Um amigo meu foi pego por um radar móvel a 97 km por hora na rodovia Tabaí-Canoas, que tem três pistas em cada mão, num local onde, inexplicavelmente, a velocidade é reduzida para 60 km por hora. Segundo ele, acompanhava, como muitos, o fluxo normal de veículos no local naquele momento.
A infração é considerada gravíssima porque o excesso de velocidade foi superior a 50% do máximo permitido para o local. Além da pena pecuniária sofreu sete pontos na Carteira de Motorista e interdição – e isto que me impressionou –, por dois meses, do direito de dirigir.
A interdição de direitos é, em muitos crimes, uma pena acessória dificilmente aplicada porque se qualifica, na realidade brasileira de hoje, em pena muito severa. O próprio nome já o diz: interdição de direitos. Significa que você será tolhido em alguma atividade que tem direito de desenvolver, o que pode significar perda de alguma oportunidade ou descontinuidade de afazeres que pode lhe acarretar prejuízos e perdas irreparáveis.
Não se está defendendo os infratores de trânsito. Estes devem ser punidos quando cometem infração. Mas também não se os pode considerar bandidos apenas por isto. Por estas razões, é injusta a desproporção da pena para quem, às vezes, comete uma infração leve e sem colocar a vida de ninguém em risco em comparação com aquele que comete um delito mais grave e acaba sendo perdoado.
A agilidade do Estado em punir esses infratores e sua extrema lentidão em processar e punir os verdadeiros larápios da nação, tanto aqueles que desviam para seus bolsos o dinheiro público como aqueles que cometem furtos, roubos, assaltos, lesões corporais e outros delitos capitulados no Código Penal e não são punidos, acaba por criar uma situação iníqua.
Então, punibilidade existe. Só que ela é capenga e não alcança a quem preferencialmente deveria alcançar.
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terça-feira, 27 de setembro de 2011

CONDOMÍNIO BRASIL: UMA PIADA REVISITADA.

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Publicada originalmente em 19/01/2006
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O síndico do Condomínio do Edifício Brasil foi finalmente notificado pelo Delegado de Polícia da cidade para prestar declarações em inquérito policial aberto contra ele.
Havia inicialmente suspeitas de desvio de dinheiro em sua gestão e a formação de um Caixa 2 para comprar o voto de condôminos em matérias de interesse de poucos, como o aumento da contribuição dos mais velhos porque, em tese, eles já estariam mais bem estabelecidos na vida.
Quem denunciou as irregularidades foi o contador Beto, que assestou metralhadoras principalmente contra os subsíndicos José Mercês e Obtúsio Aires. A este o Síndico delegara funções próprias de um tesoureiro.
O síndico tomou providências e exonerou a ambos de suas funções. Antes, chamou-os ao escritório e prometeu recompensá-los se não o incriminassem pelas ilicitudes cometidas.
O acordo demorou um pouco. José Mercês usou toda sua força argumentativa tentando convencer os demais a insistir veementemente em suas inocências, clamá-las em todas as oportunidades que tivessem: dizia que uma mentira repetida à saciedade acabava se tornando verdade.
– Vamos dizer que eles vão ter que provar, a gente vai esticando o processo, vai dizendo sempre, sempre, sempre, que é inocente e isto vai pegar. Um dia a gente sai livre dessa, sem poblema.
Não convenceu, mas acordaram que ele poderia seguir sua estratégia enquanto Obtúsio assumiria a responsabilidade pelo Caixa 2 e por uma conta no Exterior que até então era segredo.
Obtúsio compareceu espontaneamente à Delegacia. Assumiu parte da culpa, mas nunca com clareza. Chorou durante as declarações e disse que fora pressionado por empresas que atendiam ao condomínio e que estavam descontentes com os baixos pagamentos que recebiam. Ressalvou a total e irrestrita inocência do síndico Duda, que não sabia de nada pois ele, como tesoureiro de fato, era quem movimentava o Caixa.
Foi efetuada uma perícia contábil e ouvidas testemunhas, mas não se esclareceu, realmente, se o síndico tinha ou não ciência do rombo encontrado. Sérios indícios indicavam que sim, mas não havia uma segurança tão absoluta que permitisse ao Delegado enviar o inquérito ao Fórum indiciando o síndico e pedindo a abertura de ação penal contra ele também; quanto a outros não havia dúvidas.
Por isto o Delegado resolveu ouvir o síndico Ruiz Eduardo “Duda” da Silveira, e notificou-o.
A inquirição demorou mais de cinco horas. O síndico Duda era liso como uma lula e desviou-se das armadilhas mentais e das perguntas capciosas que o Delegado fazia, embora deixasse entrever que, efetivamente, não só tinha ciência como realmente participara de tudo. Mesmo assim o Delegado, homem extraordinariamente cauteloso, não ficou convencido. Ao fim da oitiva, assinado o termo, despediu o síndico:
– Muito bem. Está tudo certo então. Apenas por uma questão de lealdade, devo antecipar que não vou indiciá-lo por falta de provas. O senhor está dispensado, muito obrigado.
O síndico agradeceu, dirigiu-se à saída, mas antes de fechar a porta voltou-se, e perguntou, algo constrangido:
– Quer dizer, então, que eu não preciso devolver o dinheiro?
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CARTA CAPITAL: IMPRENSA OFICIAL?

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Nunca entendi porque o Estado precisa de publicidade. Ao mesmo tempo, não sei se os órgãos de imprensa que recebem subvenções oficiais têm liberdade suficiente de discutir os problemas desse anunciante com objetividade e isenção crítica.
Propaganda e publicidade são modos de persuadir o público em geral sobre determinado bem da vida que se oferece, demonstrando sua qualidade e benefícios para sobrepô-lo a eventuais concorrentes ou para aumentar vendas.
O Estado não dispõe de nenhum produto que tenha similar no mercado que precise de publicidade. Ele exerce suas funções através de autarquias e empresas públicas sem concorrentes e tem meios de divulgar sua atividade – necessariamente a busca do bem comum – através de A Voz do Brasil, por exemplo, e ainda das emissoras de tevê do Executivo, do Legislativo (Câmara e Senado) e da Justiça e nos sítios de seus órgãos na Internet. Além disto, o Café com o Presidente (agora com a Presidenta). Talvez o que falta, mesmo, seja material convincente.
No Rio Grande do Sul, há alguns anos, a CRT – empresa telefônica do Estado – era uma grande anunciante. Anunciava na mídia e patrocinava um ou dois programas de rádio. Mas inexistia disponibilidade técnica de linhas telefônicas e se você precisasse de uma tinha que recorrer ao mercado negro. Então, para que a propaganda enganosa? Para inibir a publicação de críticas desfavoráveis pelos órgãos beneficiados. Parece óbvio que é extremamente desconfortável ao patrocinado criticar o patrocinador.
Jornais, periódicos, revistas, portais da internet, todos sobrevivem das subvenções – vamos chamar propositalmente assim – de seus anunciantes, mais do que das assinaturas de seus assinantes ou da compra avulsa de exemplares pelos interessados. Estes, naturalmente, compram o exemplar mais pelo seu conteúdo do que pela publicidade.
Carta Capital é uma revista chapa branca e, pelo que sei, a única convicta e confessa.
Na edição do dia 07 de setembro há uma profusão de propaganda estatal melhor seria dizer “governamental”: já de início, duas páginas de um anúncio do Governo Federal: “O Brasil está em boas mãos!” Nas páginas 6/7 o BNDS, uma empresa pública federal, compartilha uma propaganda de caminhões Volkswagen. Nas folhas 18/19 um anúncio do Governo do Rio de Janeiro: “somando forças, “marca registrada do Brasil”. Um pequeno texto dizendo obviedades ufanistas que, objetivamente, não dizem nada. Nas folhas 26/27 um anúncio da Caixa Econômica Federal. Nas folhas 39/40 um anúncio da Eletrobrás: “sustentabilidade é saber que uma usina hidrelétrica e o meio ambiente são uma coisa só”. Esse anúncio é integralmente repetido, igualzinho, nas folhas 62/63... Nas folhas 66/67 um da Petrobrás: “A Petrobrás já é a quarta empresa mais lucrativa das Américas” e “O barril da eficiência está valendo muito”.
Há, ainda, um Relatório Especial, com ares de reportagem, mas que é indisfarçavelmente um relatório ufanista oficial sobre hidrelétricas na Amazônia, que ocupa nada mais nada menos do que vinte páginas...
Qual a finalidade dessa propaganda oficial? Qual a mensagem importante que o Governo quer transmitir em cada um desses anúncios de duas páginas ricamente coloridas numa revista semanal, um deles inexplicavelmente repetido? O que nos aproveita essa propaganda vazia e sem objetivo prático que poderia ter sido veiculada pelos meios oficiais com os mesmos efeitos? Para inibir a publicação de críticas desfavoráveis aos órgãos anunciantes? Parece óbvio – repito – que é extremamente desconfortável ao patrocinado criticar o patrocinador. Isto para dizer o menos.
Sabemos quem paga os custos dessa publicidade. Nós, contribuintes, que carregamos nos ombros o gigantismo do Estado e sofremos com sua ineficiência crônica nos campos da Saúde, dos Transportes, da Segurança e da Educação. Mas que vemos nessa publicidade um Estado perfeito e pujante um jeito de jogar areia colorida em nossos olhos. Estamos pagando para que nos enganem.
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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ÉTICA BANCÁRIA: UM EXEMPLO

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Clique na imagem para ampliá-la.
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Ética, segundo o Houaiss Eletrônico (parte-se, intencionalmente, de um conceito básico), é “parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social”. Por extensão de sentido, é o “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade”.
A Ética da sociedade brasileira é o instituto social que mais sofreu mutações na última década, principalmente através de motivações pífias que acabam se integrando ao cenário social por compassividade daqueles que deveriam fazer alguma coisa e se acomodam.
O mensalão, por exemplo, uma desonestidade federal, passou a ser aceitável em nome da governabilidade e porque “sempre se fez isto no Brasil”. O Caixa Dois do PT passou batido porque outros partidos fazem o mesmo. Quer dizer, ao invés de se tomar medidas enérgicas visando cessar esse estado de coisas, simplesmente se os agrega à nossa Cultura e a desonestidade passa a ser aceita e, muita vez, louvada.
Isto serve de introdução a uma questão relativa à Ética bancária, que é movida a lucro. Os bancos não cultivam essa parte da Filosofia com muita eficiência, mas ela é objetivamente mencionada na correspondência que recebi, em agosto, do Banco Itaú:
São Paulo, agosto de 2011. Ilton, Em setembro de 2009 o Itaú Unibanco, por decisão interna, cessou a cobrança da Comissão de Operação Ativa (COA), anteriormente prevista no contrato de seu cartão de crédito. Verificamos, no entanto, que após essa data (setembro/2009) ainda foram debitados em seu cartão n°************5066 (UNICARD VISA) valores relativos à COA no montante de R$ 6,35, já atualizado pelo IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo). Obedecendo aos princípios de ética e transparência que norteiam o relacionamento do Itaú Unibanco com seus clientes, informamos que a devolução dessa quantia esta à sua disposição. Para que você possa receber esse valor, pedimos a gentileza de entrar em contato com nossa Central de Atendimento pelo telefone 0800 702 4985. Atenciosamente, Itaú Unibanco S/A.
Dá para perceber como funciona a enviesada ética do Itaú Unibanco?
O estabelecimento, solertemente, surrupiou, incluindo na linha de débito de meu cartão de crédito a importância de R$ 6,35. Num lampejo ético (ou há algo mais por trás disso?) apurou o equívoco. Então, o que deveria fazer? Simplesmente creditar-me o valor, comunicar o fato e fim de papo. Mas não! Para reaver o meu dinheiro que o Banco surrupiou EU preciso telefonar para o 0800 dele para, de certo, autorizar o crédito.
Mais ou menos como se eu fosse à padaria da esquina, comprasse R$ 6,35 de pão, esquecesse de pagar e, chegando em casa, lembrando o equívoco, enviasse uma carta ao padeiro pedindo que ele viesse a minha casa receber seu pagamento.
E o Banco tem coragem de, na sua missiva, referir princípios de ética e transparência que norteiam o relacionamento do Itaú Unibanco com seus clientes.
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SE...


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A cultura “do que poderia ser” é volátil e abstrata. Se a Defesa Civil tivesse alertado a população mais cedo – é o que ouço por aí – muitos danos poderiam ter sido evitados. Claro, se houvesse tempo suficiente para todos os que fossem (notem, os que fossem) alcançados pelas águas pudessem retirar seus pertences de casa ou os erguerem para o segundo piso.
O Minhoca na Cabeça tomou a posição de não alarmar. Por isto, enquanto ouvia a Rádio Difusora alertando que a enchente poderia ser maior do que se esperava, achei que a população estivesse prevenida ou, pelo menos, sendo prevenida. Mas não houve alarmismo como, da mesma forma, não subestimaram esses órgãos a potencialidade das águas.
Agora estamos no campo das conjecturas e pouco a mais nos resta.
Se a atitude fosse alarmista teria sido melhor ou pior? Não sei, ninguém sabe nem nunca saberá. Ouvi apenas alguém dizer que os prejuízos dos comerciantes poderiam ser menores. De fato, poderiam. Mais uma vez estamos no condicional.
Qual, então, a atitude correta? A do alarmismo que provocaria uma correria maluca pelas ruas cidade, cada qual procurando salvar o que é seu, numa Rio do Sul cujas vias de escoamento são poucas, e que poderia provocar o caos também prejudicial? Agora é fácil dizer; mas antes, quando tudo estava acontecendo, era extremamente difícil porque não somos dotados do dom da adivinhação e a Meteorologia está longe, muito longe, de ser uma ciência exata. Não temo dizer que ela é 50% ciência e 50% especulação.
Mesmo com alarme nem todos poderiam safar-se porque faltaria mão-de-obra para prestar socorro a todos e, mais do que isto, faltariam veículos para transportar pertences e mesmo que estes houvesse faltariam trilhas para o escoamento.
Não estou defendendo nem acusando ninguém. Não fui afetado pela enchente, mas estou sem acesso a minha residência em razão do inacreditável e não previsto deslizamento de terras no Taboão. Não sei quando poderei voltar lá normalmente. Mas quando adquiri aquele imóvel e resolvi construir minha casa lá, assumi esse risco.
O que quero dizer é que assumimos riscos deliberadamente. Não foi o rio que saiu de leito para nos incomodar. Fomos nós que invadimos seu leito secundário, ou seja lá como se queira denominar isto que ele ciclicamente ocupa quando chuvas engrossam seu caudal e o fazem seguir caminhos marginais porque ele, definitivamente, tem que escoar por ali.
Pagamos, também, pela desorganização de nossa urbe, mas isto não é culpa da Administração. Ou residimos em áreas baixas sujeitas a cheias ou em áreas altas sujeitas a desmoronamentos. E ai de quem nos queira impedir de morar nos terrenos que adquirimos, muitas vezes a duras penas, e nos quais construímos nossas casas. Temos o direito à moradia e, em tempos de paz climatológica, não pensamos em nos precaver ao construir nossas casas e erguer nossos estabelecimentos comerciais em locais seguros.
A solução, agora, seria impedir a todos os atingidos pelas cheias de voltar para suas residências? Porque é certo, absolutamente certo, que outras enchentes acontecerão. Mas então, onde iríamos morar? Essa possibilidade é absolutamente absurda, pois seria uma violência inominável contra a liberdade individual e ao direito de propriedade impedir alguém de voltar para sua casa. Todos têm o direito sagrado de residir em suas moradias, sujeitando-se aos riscos da escolha.
Integra a natureza humana assumir riscos. A vida é risco e desde que nascemos assumimos os riscos de nossa vida. É bom não nos esquecermos disto.
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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

MAIS SOLIDARIEDADE, MENOS INTOLERÂNCIA

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Em tempos de crise como a que estamos atravessando no Alto Vale, não existem privilegiados. Existem os que perderam menos e os que perderam mais, mas, de um modo geral, todos foram afetados pela catástrofe porque a paralisação do comércio, da indústria e dos serviços atingem a todos, mesmo os que moram em locais não atingidos pelas águas nem por deslizamentos.
Embora a Defesa Civil e os órgãos públicos – o Exército está por aqui auxiliando com desenvoltura – envidem todos os esforços possíveis visando minimizar o sofrimento, é óbvio que não se consegue, num primeiro momento, atender talvez a nem 10% dos necessitados. Somente com o escoamento das águas, permitindo acesso a lugares remotos, é que esse atendimento atingirá seus objetivos.
É hora não de intolerância, como manifestações aqui e ali, mas de união, de compreensão e solidariedade. Não se pode caminhar com pedras nas mãos porque não há inimigo a ser atingido, a não ser as aves de rapina contumazes que se aproveitam da desgraça alheia para roubar – estou falando dos bandidos, absolutamente facínoras, que cometem saques e invasões, mas para eles pedras é pouco. Mas os que estão envolvidos nas atividades de socorro estão fazendo o máximo possível para cumprir a difícil missão de atender aos reclamos dos flagelados, ou seja lá como se os classifique. São uma minoria pois a maioria foi atingida e, por isto, não conseguirão atender a todos, a não ser com o passar dos dias.
Não adianta, nestas circunstâncias, conhecer 100% da cidade de Rio do Sul se 95% dela está inacessível. Não se pode exigir que os serviços de socorro desempenhem suas funções como se tudo o que estivesse inacessível aos atingidos estivesse disponível, ainda que parcialmente, aos socorristas. É muito mais difícil, nestas circunstâncias, agir, do que esperar. E mesmo os que esperam devem, por força própria, tentar minimizar seus sofrimentos enquanto o socorro não chega, embora às vezes isto se torne difícil, quase impossível.
Recentemente o furacão Irene atingiu a Costa Leste dos Estados Unidos e deixou prejuízos de mais de três milhões de euros. O pior, e o que interessa aqui, é que houve 43 mortes e um desaparecido, só nos EUA. E este país, familiarizado com esse tipo de cataclismo, dispõe de uma estrutura de atendimento superior e altamente especializada. Mas não pôde evitar essas mortes.
Não é hora, por isto, de eleger culpados.
Por que há um outro tipo de ave de rapina que atua com desenvoltura nessas ocasiões: os oportunistas, que fazem demagogia criticando a Prefeitura e a Defesa Civil procurando, pelo que me foi dado perceber, dividendos eleitorais com isto ou, pelo menos, criticando por apenas criticar porque esta é a atividade mais fácil a se exercer em ocasiões como esta.
O homem não domina as grandes agressões da Natureza, como tufões, furacões, raios, tempestades, cheias, deslizamentos... Por isto, se tivermos que eleger algum culpado, é a própria Natureza que é assim porque é de sua natureza (desculpem a redundância) ser assim. Ao homem, em sua limitada atuação, só cabe tentar minimizar, nos limites de sua capacidade, os resultados danosos. Há milhares de anos a humanidade vem sobrevivendo deste jeito e é nisto que reside a sua força de atravessar milênios rumo ao futuro.
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terça-feira, 13 de setembro de 2011

FUGA DO DESLIZAMENTO EM RIO DO SUL

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A noite de quinta (8) para sexta-feira (9), aqui no nosso recanto em Rio do Sul, foi tenebrosa. Quem lê ou vê os noticiários por certo sabem que estou falando das chuvas que provocaram deslizamentos de grande proporção e enchente como poucas vezes vista na região.

Por volta das 22,30 horas ouvimos uns estalidos suspeitos na encosta do morro próximo à cabana em que estamos acampados enquanto terminamos a construção de nossa casa. Resolvemos, por isto, ir ao galpão de festa, construído mais acima e mais seguro porque longe de ameaças das pedras das escarpas.

A noite foi de chuva até por volta de 1,00 hora. De vez em quando percebíamos estrondos e ruídos algo atemorizadores, mas supúnhamos fossem apenas de pedras rolando nas encostas e quebrando galhos de árvores. Apesar de tudo, passamos bem a noite e de manhã fui avaliar eventuais danos.

Não percebi nada de anormal. Muni-me de uma enxada para desentupir o esgoto da lagoa de cima e quando fui verificar a de baixo, deparei-me com cinco ou seis voluntários, todos do bairro Taboão e conhecidos, alvoroçados, que foram nos buscar porque temiam pelo pior.

Ficamos de certa forma surpresos pois, aparentemente, nos arredores próximos nada havia acontecido. Então nos disseram que houve vários desmoronamentos de grandes proporções nas estradas de chegada e insistiram que arrumássemos nossas roupas para sair dali.

Foi então, na saída, que vimos o estrago. A ruazinha que fica no interior do nosso terreno até que resistiu. Mas da divisa até a rua Carlos Parma, e nesta, os estragos foram comparáveis a de um terremoto: a terra não deslizou propriamente, como nas cenas que vimos pela televisão em Cabo Frio, por exemplo; ela afundou, em alguns lugares significativamente, e se retorceu como se estivesse se acomodando em razão de um vazio nas suas entranhas. Os estragos se assemelham aos produzidos por um terremoto, tantas as rachaduras e desnivelamentos ocorridos no local.

O filminho acima dá uma pálida ideia do que ocorreu. As cenas estão demasiadamente curtas porque a filmadora estava apenas com um restinho de bateria. Além disto, nos lugares mais fechados, mesmo com a lente ampla, não se conseguia uma abertura suficiente para captar a totalidade dos danos. O câmera-man, eu, também não é lá essas coisas.

domingo, 21 de agosto de 2011

AMNÉSIA. NA VERDADE, MEMENTO.

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Este é um filme cujo enredo é deliberadamente intrincado. Se seu espírito estiver dirigido para um Dançando na Chuva, por exemplo, não deve ver Amnésia. Você vai detestar porque, mesmo que, no final, monte o quebra-cabeça, sairá esgotado do cinema. Se for com a namorada, melhor combinarem antes e não sentarem juntos. Não é um filme apropriado para namorar. Não é o que se pode chamar de entretenimento água-com-açúcar.
A primeira cena é a última do enredo. Até aí nada demais. Muitos diretores usam esse recurso para depois, em flashbacks, começar do início (a redundância é proposital) e chegar ao final exibido.
A diferença, aqui, é que as demais cenas obedecem ao mesmo critério: a seguinte é a penúltima, a posterior a antepenúltima e assim sucessivamente. É um filme de trás para diante. Mas alguns segundos das introduções de cada cena são repetidas para que o espectador possa se situar.
Por que isto tudo? Porque o personagem Leonard (Guy Pierce, de Los Angeles Cidade Proibida) sofreu um trauma neuropsicológico ao tentar socorrer a esposa, que foi estuprada e assassinada: desde então ele apenas sabe quem é e lembra sua vida anterior, mas depois de alguns minutos apaga-se em seu cérebro a lembrança de fatos e vivências recentes.
Não se trata de amnésia, a perda traumática da memória (na maioria das vezes reversível), mas apenas da perda da memória recente. Tanto que o filme, no original, se chama Memento (lembrete, anotação de algo para que dele não se esqueça) e não Amnésia. Mais uma vez a tradução é criticável.
Para manter o elo com esse passado e seguir sua obstinada busca por vingança, usa de métodos inusuais: tira fotos com uma Polaroid, faz anotações nelas e escreve bilhetes. Tatua lembretes dos fatos mais importantes no próprio corpo. Assim registra seu passado recente e não perde totalmente o controle de sua vida.
Os resultados são imprevisíveis. Ele é enganado por quem se diz amigo, mas apenas se aproveita da situação. É levado ao mundo do tráfico e mesmo sem o saber transporta uma fortuna no porta-malas do veículo que acredita ser seu e se envolve em outras confusões, mas o filme não descamba para o risível.
Obstinado pelo desejo de vingança, prossegue em sua busca, mesmo questionado por um policial amigo (?) de que tudo será inútil, pois sua condição retira-lhe o entendimento linear da própria consciência e mesmo que consiga o desiderato ele logo será apagado... Qual o sentido de matar o assassino da mulher se, depois, não se lembrar da vingança? Quantos precisará matar até se convencer, pelas anotações, de que alcançou o objetivo e encontrou o verdadeiro culpado?
O filme não fez sucesso comercial. Mas é, sem dúvida, um ótimo filme, e embora recente, já se tornou um cult. Merece destaque uma comovente história paralela que o personagem vivenciou antes da crise em razão de sua profissão de investigador de seguros, e que aos poucos vai revelando como reconhecendo que nem tudo é como parece. Essas cenas são em preto e branco.
O devedê apresenta uma facilidade: é possível ver o filme na ordem direta, bastando optar por “Se você sofre de amnésia, tecle aqui”. Perde um pouco a graça, mas facilita o entendimento.
A direção e o roteiro são de Christopher Nolan. Na trilha sonora, Radiohead, Moby, David Bowie e Paul Oakenfold. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Montagem e de Melhor Roteiro Original (2001), recebeu indicação ao Globo de Ouro e ganhou o prêmio de melhor roteiro no Sundance Film Festival.
Você pode ler uma interessante resenha historiográfica a respeito em Amnésia, o tempo como construção, de Norma Côrtes, cujas credenciais encontrará no site. São aqui omitidas para não provocar excesso de caracteres e impedir a postagem.
Aliás, se eu tivesse lido esse texto antes sentiria vergonha de postar o meu. Sinto muito: ele estava quase pronto e programado para hoje e sua finalidade é meramente indicativa.
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domingo, 12 de junho de 2011

VIA EMBRATEL X FILM&ARTS: OUTRA DICA

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Em 28 de maio último, quando anunciada a sacanagem da Via Embratel de retirar de sua grade de programação o canal Film&Arts – que se consolidou logo em seguida com uma ignóbil rasteira nos assinantes – enviei e-mail para o filmandarts@pramer.tv solicitando informações sobre outras operadoras que eventualmente transmitem o sinal no Brasil.
Em 30 de maio veio a resposta:


 Prezado Ilton
Agradecemos seu interesse pelo canal.Infelizmente não podemos fazer nada sobre esse assunto, já que não é nossa adecisão sobre a descontinuidade do serviço.
 Abaixo segue uma lista das operadoras de TVa cabo que trabalham com Film&Arts no Brasil.
- Telefonica Sistema de Televisão (São Paulo e Rio de Janeiro)
- Comercial Cabo (São Paulo)
- TVA Sul Paraná (Curitiba)
- A.Telecom (Teléfonica – DTH)
- RCA Company de Telecomunicações de Cabo Frio Ltda (Cabo Frio)
- Net Serviços de Comunicação (Marília)
- Cabo Serviços de Telecomunicações (Natal)
- RBC Rede Brasileira de Comunicação (Divinópolis e Montes Claros)
- SSTV Sistema Sul de TV Por Assinatura Ltda (São Bento do Sul)
 Atenciosamente

Bianca Coletti 
PRAMER SCA


Infelizmente nenhuma delas alcança o alto do Taboão, aqui em Rio do Sul, ainda.
Mas se você mora num local de abrangência de uma das listadas aí em cima e tem interesse no Film&Arts, dê uma altiva rasteira na Via Embratel, cancele sua assinatura e recontrate outra.
 Mais uma dica do Jus Sperniandi, no exercício do seu mais lídimo direito: o de espernear.
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quarta-feira, 8 de junho de 2011

VIA EMBRATEL: MAIS UMA DICA

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Esta é do Alb, que no dia 04 último postou o seguinte comentário no meu post de 30 de maio:

Conte com meu apoio. Protestei junto à Via Embratel, que respondeu tratar-se de uma decisão da empresa. Encaminhei, ainda, email ao MEC (por diversão) e email à ABTA, pedindo a essa que não mais solicitasse apoio contra os projetos de controle de conteúdo das TVs por assinatura”.
No dia 07/06 informa o resultado de sua investida:
 O MEC, como esperado, diz que o problema é da ANATEL, ou seja, de simples consumo.
Resolvi,então enviar email à ViaEmbratel pedindo a substituição do canal por outro do mesmo gênero, como faculta o § 1º do Art. 28 do Regulamento de Proteção e Defesa dos Assinantes. Segue modelo para quem quiser encaminhar o mesmo pleito:

"A decisão da ViaEmbratel de cancelar o Film&Arts rebaixou em muito o nível da programação. O desconto no valor da assinatura não é de meu interesse e por isso solicito, nos termos do § 1º do Art. 28 do Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura aprovado pela Resolução nº 488, de 03.12.2007, que a Via Embratel substitua o canal Film&Arts por outro do mesmo gênero.

"RESOLUÇÃO No 488, DE 3 DE DEZEMBRO DE 2007.
"Regulamento de Proteção e Defesa dos
Direitos dos Assinantes dos Serviços de
Televisão por Assinatura"

"Art. 28. Qualquer alteração no Plano de Serviço deve ser informada ao Assinante no mínimo 30 (trinta) dias antes de sua implementação, e caso o Assinante não se interesse pela continuidade do serviço, poderá rescindir seu contrato sem ônus.


§ 1º Caso a alteração mencionada no caput implique a retirada de canal do Plano de Serviço contratado, deve ser feita sua substituição por outro do mesmo gênero, ou procedido desconto na mensalidade paga pelo Plano de Serviço contratado, a critério do Assinante."
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

VIA EMBRATEL: DICA INTERESSANTE

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Minha "campanha" contra a Via Embratel para manutenção do canal Film&Arts não deu resultado, o que, de certa forma, era esperado. Houve quem se solidarizasse, mas a maioria parece que não se comoveu e, na velocidade twitternáutica, tudo já ficou há uns cem anos luz.
 Mas houve um desdobramento que talvez interesse pois, pelo menos, oferece uma contrapartida financeira. Cancelei minha assinatura e no dia seguinte uma atendente da Via Embratel telefonou-me. Tentou manter-me como assinante, sem sucesso.
 Então me fez a proposta: seis meses pagando a metade do preço de até então, mais dois meses dos canais Telecine gratuitamente.
 Não aceitei. Mas fica a dica...
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sexta-feira, 3 de junho de 2011

APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA

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Recebi um e-mail com o texto abaixo, atribuído a LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO:


Aprenda a chamar a polícia...
Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.
Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranqüilamente. Liguei baixinho para a polícia informei a situação e o meu endereço. Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Cinco minutos depois liguei de novo e disse com a voz calma:
– Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de dois minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:
– Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.
Eu respondi:
– Pensei que tivesse dito que não havia ninguém disponível.
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segunda-feira, 30 de maio de 2011

VIA EMBRATEL PARA DE TRANSMITIR FILM&ARTS

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Os brasileiros não dão muito valor à arte dos grandes compositores, dos grandes escritores, dos grandes pintores e dos grandes cineastas. Não há um canal da tevê aberta que dedique alguma programação a manifestações culturais tão elevadas. Somente a TV Cultura, assim mesmo muito esporadicamente, investe nesse segmento.
Até 2007 a DirecTV transmitia o canal Film&Arts, que dedica grande parte de sua programação às Belas Artes: história da arte, especialmente enfocando as artes plásticas e os grandes pintores, transmissão de concertos e óperas, filmes diferenciados, entrevistas com ícones da cinematografia e outros programas. Com a fusão com a Sky, num flagrante desrespeito aos assinantes, o canal foi extirpado da grade desta, apesar da promessa de que seriam mantidos todos os canais.
Na época movi uma ação contra a Sky para que esta cumprisse a promessa, inexitosamente: perdi a ação. A sentença pode ser lida aqui.
A Via Embratel, concorrente da Sky, transmite o canal e isto me motivou a adquirir a assinatura da programação básica mais a Multicultural, exatamente para poder assistir ao Film&Arts.
Entretanto, há alguns dias recebi a mensagem acima: a partir do dia 05 de junho a Via Embratel não mais transmitirá o Film&Arts, sem qualquer justificativa aos assinantes.
Mais uma vez, portanto, demonstra-se o desamor às artes. Permanecem os enlatados americanos, os canais religiosos, os de futilidade, os esportivos, os de venda, e pouquíssima coisa mais. Com isto a Via Embratel perde e se rebaixa à mesmice das demais retransmissoras.
Gostaria de iniciar uma campanha de remessa de e-mails à Via Embratel, pedindo a manutenção do Film&Arts, ainda que ciente de que este pedido talvez não encontrasse a receptividade das grandes causas. Mas não tenho como.
A empresa, espertamente (como fazem muitas outras) bloqueia e-mails e a remessa só é possível mediante cadastro em seu site, o que é uma encheção de saco formalizada exatamente para que ela se ponha a salvo de críticas e pedidos como este. Gostaria de encabeçar um movimento positivo em favor da arte pura, que tanta falta neste país, sem prejuízo da cultura popular que continuará privilegiada nas transmissões dos canais abertos, a cabo e via satélite. Mas não disponho de meios para isto.
Enviei e-mail à transmissora pedindo a manutenção do canal. Naturalmente, não serei bem sucedido e só me restará o cancelamento da assinatura. Meu modo quixotesco de protestar.
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terça-feira, 24 de maio de 2011

O ESTADO E A JUSTIÇA MOROSA

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O que impulsiona a atuação do Judiciário é o ato anterior de quem faz emergir no mundo jurídico a necessidade de alguém se valer de uma ação judicial para haver seus direitos. Até aí tudo bem. A convivência humana é marcada por desacertos e há mesmo necessidade de um órgão que resolva as pendengas emergentes.

Mas é difícil aceitar que o Estado, criado exatamente para promover a segurança dos cidadãos, em sentido lato, e que por isto deveria assegurar o bem estar comum integral, seja aquele que mais o fere e o que mais contribui para o surgimento de ações judiciais e, via de consequência, o maior responsável pela morosidade da Justiça.  

Levantamento oriundo no CNJ dá conta de que o Estado (União, Estados-Membros e Municípios) são partes em 51% das ações que tramitam nos foros brasileiros. Ou seja, mais da metade. Na Justiça Federal o percentual chega a 79%. Na Justiça do Trabalho a espantosos 34% (o Estado, além de mau gestor, não cumpre nem suas obrigações trabalhistas) e na Justiça Estadual 31%.

São números inquietantes. Em nenhum país sério do mundo pode se admitir que o Estado seja tão descaradamente descumpridor de obrigações básicas e, por isto mesmo, insuflador da movimentação judiciária a níveis insuportáveis.

Hoje, é difícil imaginar alguém que não tenha algo a reclamar do Estado. FGTS, remuneração das poupanças, direitos adquiridos e não pagos por empresas públicas, má interpretação de leis trabalhistas – sobre tudo isto existem milhares de ações atulhando os escaninhos do Judiciário.

Se o Estado fosse mais justo e alcançasse aos cidadãos seus direitos, se cumprisse suas obrigações básicas, não elaborando planos e pacotes mirabolantes que afrontam os direitos do cidadão, não haveria tantas ações. O Judiciário teria mais fôlego para atender à demanda que emerge normalmente do convívio social, e que é não pequena.

O Judiciário é um poder de exceção. Só lhe cabe solucionar litígios. Não é dotado de um mecanismo eficaz que possa evitar que eles surjam. Mas passou a ser a regra porque o Estado, por seus ladinos governantes, percebeu que é mais cômodo deixar de atender aos reclamos do cidadão para que este busque a Justiça. E se sente satisfeito porque esta não resolve problemas com a presteza desejável.

Cada ação ajuizada contra o Estado reflete uma negativa de direito ou de direitos. Você que tem um processo que está demorando, lembre que antes de ajuizá-lo alguém feriu seus direitos e esse alguém não foi o Judiciário. Muito provavelmente foi o Estado.

Diante desse quadro, é difícil acreditar que o Estado brasileiro tenha interesse sério e efetivo em resolver o problema da morosidade da Justiça. Afinal, ele é o maior beneficiário dessa morosidade.

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