Há uma
conspiração mundial que quer me inculcar terríveis sentimentos de culpa. Se soubesse,
teria dado meia volta quando era um veloz espermatozoide, sem problemas de
fibrilação nem de coluna, e desistido de fecundar o óvulo de minha mãe naquela
única corrida que venci na vida. Talvez tivesse nascido um outro eu mais calmo
e não vocacionado a suportar complexos de culpa.
O Arnaldo
Jabor, certa vez, falando de um crime que vitimou um menino, apontou o dedo
para a minha cara e disse que eu era culpado. Não apenas eu, claro, mas todos
os que assistiam ao Jornal da Globo naquela noite.
A Greta
grita sem garbo que sou responsável pelo afano de sua infância e pelo efeito
estufa e sempre aparece algum “especialista” conclamando a que eu faça a minha
parte: tomar banhos curtos, fazer xixi durante o banho para economizar água da
descarga, evitar o carro, não usar ar condicionado, respirar suavemente, pois o
gás carbônico prejudica a camada de ozônio, e só peidar com prudência.
A gente luta
a vida inteira para chegar à velhice e gozar de alguns luxinhos ausentes antes
e especialistas travestidos de formadores de opinião nos transformam em réus.
Vão tomar nas
culpas! Não participei de lucros de empresas poluidoras, não exerci ações nocivas
à vida na Terra, nunca tive mira para matar um mísero passarinho na infância
(só arranquei penas!), não provoquei essa pandemia nem seus efeitos e querem me
responsabilizar pelo caos que outros causaram.
Deixem-me em
paz. Dessa socialização estou fora. Não sou politicamente correto nem quero
servir de exemplo para ninguém. Nem de bom nem de mau.
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