A equação
existencial mais simples da vida é envelhecer e permanecer sempre jovem. Uma
coisa exclui a outra e isto é questão de Biofisiologia mesmo.
Nem nos cabe
escolher. Na verdade, vamos enrolando e tentando enganar o Tempo, esse
incorruptível que “não para no porto, não
apita na curva e não espera ninguém”, como diz a música popular de quando
eu nem queria saber dessas coisas.
O Tempo vai
jogando cracas no nosso organismo, retirando cores e nos transformando. As
feições daquela foto do bebê fofinho tomam a forma macilenta, enrugada e manchada
de um maracujá de gaveta.
Há coisas que até
o espelho, envergonhado, esconde, e que só numa fotografia, ou numa filmagem,
vamos constatar: uma tonsura exageradamente grande no cocuruto. Então sabemos
que temos cabeça de motel: uma entrada, uma saída e uma cama redonda no meio.
Mas seus médicos
— após certa idade terá que ter mais de um, pois você é dissecado em vida e
separado em partes como um boi é repartido em cortes — vão afirmar, com cândida
segurança, que você pode levar uma vida normal. A única coisa que muda é o
conceito de “vida normal”.
Quem sofre de
hipertensão pode levar uma vida normal desde que tome anti-hipertensivos pelo
resto dela. Quem tem fibrilação atrial, pode levar uma vida normal, desde que
tome um betabloqueador, um antiarrítmico e um anticoagulante. Se você tem
gastrite crônica também pode levar uma vida normal desde que tome um da família
dos prazóis. Se você tem dores na coluna pode levar uma vida normal, desde que
faça fisioterapia continuamente e aprenda a viver feliz com ela, mas sempre
lembrando que Darwin fracassou na teoria da evolução: ele esqueceu de dizer
que, levantando-nos nos pés de trás, comprometemos nossa coluna em prol de uma
postura mais digna e vertical.
Suas partes
cartilaginosas crescem e você fica mais narigudo e orelhudo, sem que isto
importe em que você se torne mais burro. Ou mais inteligente. Pelo contrário,
muitas vezes, mas nem sempre.
Outras coisas
também crescem, como a próstata nos homens, e se você chegar aos saltitantes
100 anos de idade tem chance de quase 100% de sofrer de câncer na glândula...
Como estará com 100 anos seu médico naturalmente dirá que poderá levar uma vida
normal. Ainda que tenha todas os outras doenças referidas acima. Afinal, se com
todas elas você chegou aos 100 anos, qualquer tipo de vida daí por diante pode
ser considerada normal.
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