Dizer palavrões é uma arte. Nem todos conseguem manter a dignidade
quando os pronunciam. Muitos, incentivados pelos que acham graça, sentem-se
autorizados a usá-los mais e mais e se acreditam comediantes. Isto ocorre muito
no Brasil. Comediantes sem graça mas bocas sujas.
A dona Edite sabia empregar palavrões e o fazia com a mais absoluta
devoção. Se no ambiente grave e solene de uma igreja ela, no Credo, rezasse,
por exemplo, “padeceu sob o filho-da-puta do Pôncio Pilatos” ninguém
consideraria anormal. Aquele que sabe dizer palavrão deve ter a capacidade de
incluí-lo até numa oração...
Certa vez eu a visitava e ela me pediu para comprar uma garrafa de
cachaça na bodega da esquina. Foi à dispensa buscar uma garrafa vazia – naquele
tempo o vasilhame era trocado na compra, para baratear o custo – e do interior
da mesma, entre o ruído de garrafas batendo, disse:
— Preciso arrumar uma garrafa boa, sem lasca na boca, porque senão
aquele filho-da-puta do bodegueiro não aceita.
A vó Maria, mãe do D., da M., da Z. e de mais uns três filhos, era
olímpica. Certa vez, na casa dos sessenta, sofreu um desmaio. A Z. logo a levou
ao médico, com receio de que talvez fosse um AVC ou algo do gênero. No
consultório, relatada a ocorrência, o médico pediu à Z. que fizesse algumas
perguntas à mãe, sobre fatos ou situações, e lhe informasse se houvesse
incongruências.
— Mãe, tu sabes quem eu sou?
— Claro que sei. Tu és a Z., minha filha.
— Tu tens outros filhos?
— Tenho cinco ao todo – e declinou o nome de um por um.
— Tu és casada?
— Não, eu sou viúva.
— Mas tu eras casada com quem?
— Com o caralho.
Z. olhou para o médico e disse:
— Está tudo bem, doutor, ela está normal.
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