Você conhece
algum corrupto pessoalmente? Eu não! Ninguém conhece, porque mesmo os que
conhecem não admitem que o amigo o seja. Se é do ramo, menos ainda. Tenho
conhecidos que andam aí pelas beiras, não são corruptos pois têm as leis pelas
costas e se consideram honestos. O conceito de honestidade sofre variações
ditadas financeiramente.
Os homens que
se valem da lei para obter benefícios imorais não são corruptos. São amorais:
recebem benefícios e acham que isto, por não ser ilegal, não é também imoral.
Tenho uma
conhecida com curso superior que não exerce a profissão porque prefere viver
com a pensão vitalícia que lhe deixou o pai desembargador. Nunca casou, viveu
maritalmente e o casal teve filhos. Se ela casasse perderia o direito à pensão.
Uma pretora —
espécie de juiz com competência menor no Rio Grande do Sul (o cargo era
temporário, mas a Constituição cidadã tornou vitalício) — acumulava vencimentos
com a pensão que lhe deixou o pai, promotor. Também não casou.
Em Santa
Catarina, dois ex-colegas advogados deram uma rasteira perfeitamente legal no
Estado. Um foi indicado pela OAB para o quinto constitucional do Tribunal de
Justiça. Nomeado desembargador, atuou cinco anos e se aposentou com proventos
integrais. Depois foi nomeado procurador de autarquia, trabalhou alguns anos e
obteve nova aposentadoria.
Outro, menos
ambicioso, contentou-se com a nomeação para procurador da Justiça do Trabalho
e, orgulhosamente confessou, após 48 meses aposentou-se com proventos
integrais. Dedica-se a pescar.
Sei de um
ex-desembargador no Rio Grande do Sul que também deu este golpe no baú estatal.
Era advogado de uma bela banca de advocacia, com obras escritas em parceria com
um desembargador aposentado de eminente saber jurídico e ingressou no Tribunal
de Justiça pelo quinto constitucional. Trabalhou não muito brilhantemente o
tempo necessário, aposentou-se e voltou a advogar sem riscos.
Essas
possibilidades parasitárias influem negativamente no sistema previdenciário e
não há reforma que aguente. Se eu, um ser reconhecidamente doméstico, conheço
esses cinco casos (já ouvi falar de outros) quantos, na verdade, não haverá por
este país afora?
Isto não é
privilégio do Judiciário ou do Ministério Público. Acontece, também, ou pelo
menos acontecia, com filhas de militares e em outros setores da vida pública.
Há jornalistas — e isto um deles me confidenciou — que assumiram cargos em
órgãos públicos, nunca exerceram a função, foram adicionando penduricalhos aos
vencimentos e se aposentaram. Sempre — repito — com aposentadoria integral.
Então, como não
há corruptos no Brasil, tanto que você não conhece nenhum, sou forçado a
reconhecer que a lei é que é corrupta ao colocar à disposição de honestíssimos
parasitas essas possibilidades. O pior é que ela já nasce corrupta e o Judiciário,
mais tarde, quando ela é questionada, se encarrega de sacramentá-la como tal.
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