Você
está viajando, para num restaurante e ao retornar flagra um ladrão arrombando o
carro e furtando seu notebook. Com a ajuda de populares consegue detê-lo, chama
a polícia e vai à Delegacia. Umas três horas depois, declarações prestadas,
você vai sair mas entra na sala um senhor bem vestido e pergunta:
–
O senhor teve o notebook furtado e prendeu o suspeito, não é?
–
Sim, outras pessoas me ajudaram. Por quê?
– Para
sua segurança esta conversa está sendo gravada. Precisamos verificar se está
tudo correto: se o senhor tem nota fiscal do aparelho ou ele foi comprado no
Paraguai; se o suspeito arrombou a porta do veículo ou o senhor a tinha
esquecido aberta; se o carro estava bem estacionado, se o notebook está
funcionando ou tem algum defeito, se a bateria está boa, o estado do hd, etc...
–
Mas o delegado conferiu, está tudo certo. Tenho nota fiscal mas está em casa
pois não costumo carregar as notas dos meus pertences, o note funciona bem e a
bateria está boa. Não estou reclamando de nada e preciso seguir viagem.
–
É, mas lei recentemente aprovada nos obriga a esse exame. Não é o senhor que
decide se está tudo certo. É também para a sua segurança e tranquilidade que
somos obrigados a periciar o aparelho, testá-lo e avaliá-lo por avaliador
juramentado. O valor do bem pode influenciar na pena que talvez seja aplicada
ao réu, se ele for condenado. O senhor não gostaria de ser acusado de ter
mentido, gostaria?
–
Claro que não! Mas isto é um absurdo...
–
O senhor pode considerar assim, mas é a lei e a lei tem que ser cumprida. Além
de tudo, se eu não fizer isto, posso ser processado por abuso de autoridade,
conforme outra nova lei também em vigor. Isto é uma espécie de garantia estendida
patrocinada pelo Estado.
–
Mas eu dispenso essa garantia, está tudo normal e não posso ficar esperando
esse procedimento todo.
–
O senhor entendeu mal, essa garantia não é para o senhor, é para o preso, para
salvaguardar os direitos fundamentais dele. Temos que assegurar que ele tenha
um processo justo.
O
delegado, percebendo que o homem bem vestido estava ficando impaciente, chama
você de lado e aconselha:
–
Olha, meu senhor, eu sei que está tudo certinho, tudo correto, mas é bom o
senhor escutar o que o homem diz. A lei mudou mesmo. E ele é o Juiz de Garantia
aqui da região.
Mutatis mutandis, como adoram dizer os juristas – (significa: com as devidas adequações) –, é mais ou
menos assim que vai funcionar o juiz de garantias no processo penal no Brasil.
É a garantia estendida da impunidade. E é de graça!
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