Tenho a
impressão de que certos segmentos sociais choram de barriga cheia. Os gays, por
exemplo, que realizam dezenas de paradas por ano nas grandes cidades, fazendo
festa com direito a ocupação de ruas, mudança de trânsito, segurança especial
e, às vezes, verbas públicas.
O pretexto é legítimo:
combater o preconceito. Mas, pelo que se vê meio de longe – não moro mais num
grande centro – tal preconceito já não é tão intenso como foi e os gays dispõem
de facilidades que nós, os gordos, por exemplo, não temos (só se formos gordos
e, além disto, gays).
Há algum tempo
uma reportagem televisiva demonstrou que o poder aquisitivo dos gays é maior do
que o dos não-gays da mesma faixa etária. Ok. Isto não é privilégio. É
resultado de atividade profissional, de dedicação, de trabalho muitas vezes
duro (ops!) e sujeito a discriminações.
Quando alguém
consegue algo por mérito, merece aplauso. Ao contrário da indicação ao STF, em
que não há mérito algum. Há muito mais mérito em conseguir um bom emprego na
iniciativa privada do que ser indicado ministro do STF.
Isto motivou o
setor de turismo a promover eventos especificamente direcionados aos gays, visando
lhes proporcionar maior prazer e, naturalmente, explorá-los.
Os gordos
não choram de barriga cheia. Eles riem! Também somos uma tribo que consideram
privilegiada. Um ex-presidiário semi-analfabeto, e que não pode se considerar
magro, anda espalhando sandices gordofóbicas por aí: “Se produzimos alimentos
demais nesse país e tem gente com fome, significa que alguém está comendo mais
do que deveria para que o outro possa comer pouco. Significa que estamos
desperdiçando alimento. Significa que alguma coisa está errada” (a eleição
dele, por exemplo, foi muito errada).
Esse
ex-presidiário já foi mais gordo e numa dieta de 2004 perdeu “12 litros”,
segundo Millor Fernandes. Ele fez insinuações constrangedoras numa discussão
com Ronaldão, em 2006, dizendo que diziam que ele era “gordo, gordo, gordo,
gordo”. Ronaldão respondeu que também diziam que ele, o ex-presidiário, “bebia
pra caramba!” Veja! Mais recentemente Rodrigo Maia chamou Bolsonaro de “gay” e
Bolsonaro respondeu que Maia é “gordinho”. Por aí...
Só que no
nosso caso não é fácil fazer denúncias, embora o preconceito exista, ah, se
existe! Comover o pessoal e atraí-lo para a causa, é mais difícil ainda.
Mesmo
assim, visando mudar nosso infortúnio social, pensei em fazer como os gays:
realizar paradas gordas ou de gordos. Mas há vários problemas.
Em primeiro
lugar, necessitaríamos de muito espaço. Cem mil gays cabem, por exemplo, no
Maracanã, pois para eles quando mais juntinho melhor. Melhor ainda, e dobra a
capacidade, se sentarem no colo um do outro. Mas cem mil gordos precisam de
pelo menos uns cinco maracanãs para que se sintam confortáveis, sem falta de
ar, sem troca-troca de suores e com um bom espaço ao redor, pois gordo que se
preza não caminha: balança e vai pra frente.
Haveria
problemas também de “mobilidade”, pois as catracas dos ônibus são apertadas e
muitos ficaríamos entalados. E como nos alimentaríamos? Manifestação não é
greve de fome! Teríamos que deixar as ruas livres para a passagem de carretas com
alimentos substanciosos. E guloseimas também, claro, que nenhum gordo é de
ferro! Sem estas não dá! E ficaríamos apenas com as calçadas? Uma parada assim,
pela calçada, não impressiona ninguém, é humilhante. Não dá pra encarar. Desisto!
Finalmente,
embora alguns possam ler diferente, esclareço que só quis ser irônico, não
preconceituoso. Sou gordo e não tenho nada contra gays, de qualquer sexo. Não
sou gay. Mas talvez apenas porque ainda não encontrei o homem da minha vida (ai, ai, ai!).