O texto abaixo foi por mim publicado em 13/09/2006, no blog Jus Sperniandi, que mantive no UOL.
Fácil perceber que o que nele foi dito aplica-se como uma luva à realidade de hoje.
Parecem vozes do
deserto soando em vão. Os ventos não sopram ondas sonoras para o Planalto e os
que gritam aqui em baixo estão sozinhos. Os raros ecos que chegam lá encontram
ouvidos entupidos por bolores dogmáticos e fervorosos que obliteram
consciências e se impõem aos que apenas podem gritar.
A Imprensa, que bem ou
mal, é a amplificadora das grandes mazelas politiqueiras, como as do mensalão,
dos correios, dos sanguessugas e outras que não adianta relacionar porque vai
apenas esgotar os limites de caracteres do post, também parece dormente,
acalentada pelo canto de sereias, sem se animar a perseguir mais fundo o dever
de informar e divulgar denúncias. Mais interessa o fato consumado da briga de foice,
de preferência com vítimas sanguinolentas – dá mais Ibope – do que amplificar
vozes do deserto para que elas, como os caminhões de som dos candidatos que
passam pelas ruas nesta época, atormentem, ou pelo menos, obriguem a ouvir os
que não querem ouvir. Para que depois não digam que não foram alertados.
O que está ocorrendo –
ou melhor – o que não está ocorrendo com as denúncias de que a urna eletrônica
é fraudável? Ninguém dá a mínima. Domingo, no Roda Viva, o jornalista Joelmir
Betting, iniciou o que pensei fosse um questionamento ao Ministro Marco
Aurélio, presidente do TSE, sobre o assunto. Pura esperança! Além de não
questioná-lo partiu do pressuposto de que ela é infalível para indagar sobre
seu uso futuro.
Parece que todos os
setores da sociedade brasileira se uniram num conluio perverso e universal para
evitar um problema crucial e deixaram de lado os poucos que berram. Será que
esses poucos são loucos conspiradores e inimigos do Estado e do sistema
eleitoral? Será que o livro dos doutores Brunazo e Cortiz (Fraudes
e Defesas no Voto Eletrônico) é apenas um panfleto mal intencionado,
que visa gratuitamente desacreditar a instituição dogmática e fechada(?) da
ungida urna eletrônica? E o Voto Seguro, é igualmente apenas panfletário?
Será que ninguém vai dar bola para o que escrevo aqui, não porque sou eu que
escrevo, mas porque o assunto é grave? Não interessa que seja eu, sou capaz de
andar troteando para demonstrar que sou burro, mas o que estou dizendo não é
fruto de imaginação. Já vi muitos burros terem lampejos instintivos de absoluta
lucidez e muitos inteligentes fazerem besteiras com galhardia acreditando-se
gênios.
Ninguém está pedindo
que as urnas eletrônicas sejam dispensadas. Apenas que nos dêem a certeza de
que o candidato cujo número digitaremos nelas seja exatamente aquele que
receberá nosso voto. É pedir demais?
O computador, quando
surgiu, era confiável. Poucos admitiam a possibilidade de o “cérebro
eletrônico” errar e era louco quem ousava desacreditá-lo – eu era programador
quando os primeiros computadores, aqueles enormes mainframes, chegavam ao
Brasil e o da Telesc, em Santa Catarina, da Burroughs, era um dos mais modernos
da época. Dizia-se que não fora escolhido um IBM, mais sólido no mercado, por
que esta empresa mantinha uma rede de espionagem mundial através de seus
computadores.
Quem, ao se iniciar no
mundo computadorizado, acreditava que podia ser vítima de hackers, de vírus, de
espiões e de bugs? Eu não. Mas eles estão aí. São uma realidade apenas menos
visíveis que os programas legais.
Os senhores do Planalto
passam por uma fase de deslumbramento com a urna eletrônica e não admitem que
ela possa ser mal utilizada. É um dogma eleitoral e só loucos procuram destruir
dogmas. Galileu, Freud e Darwin? Loucos! Apenas loucos porque destruíram mitos
e dogmas.
A urna eletrônica foi
parida de repente, sem a segurança das coisas que nascem pequenas e aos poucos
vão se consolidando com firmeza, é o Sol que gira ao redor da Eleição, é a
ausência do inconsciente e do subconsciente eleitoral.
Quando os gênios do
Planalto, hoje de olhos e ouvidos fechados,
atinarem para essas verdades muita injustiça terá sido cometida. Talvez
seja tarde.
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