Autor: Davi Castiel Menda
Já imaginaram: todos os 210
milhões de brasileiros, cada um com um milhão de dólares na mão?
Nesta situação que
estamos atravessando, em que todos são PHD’s em qualquer assunto, em que os
governos liberam generosa e escandalosamente suas burras para amenizar a
situação do povo, apresentadores de TV nos transmitem ideias esdrúxulas as
quais nos sentimos constrangidos com tanta ignorância ou insensatez, ficamos a
imaginar se já vimos de tudo.
Não, não vimos. Profetizando
nossos temores, algo de fantástico aconteceu. Os países mais ricos do mundo se
cotizaram, passaram um whats para alguns políticos brasileiros, estes se
reuniram às pressas em Brasília, a Câmara aprovou à tarde. o Senado ratificou à
noite. Venderam a Amazônia! Valor: 210 trilhões de dólares.
Motivo apresentado para
aprovarem a venda: o valor seria distribuído entre todos, em partes iguais. Um
milhão de dólares para cada brasileiro, brasileira, independentemente de sua
situação financeira, idade, credo, cor ou paixão futebolística.
Nem sei se existe esta
dinheirama toda mas, vamos dar asas à nossa imaginação e acreditar que sim. Já
imaginaram, todos os 210 milhões de brasileiros, cada um com um milhão de
dólares na mão?
Em off: fontes bem informadas relatam que os diretores de Flamengo e
Corinthians, por deterem as maiores torcidas do Brasil, teriam exigido da CBF
uma maior cota para seus associados, mas o pedido foi rejeitado.
Todo mundo rico! E, eu
pergunto, e daí?
Inicialmente, haveria
uma corrida aos bancos, num processo inédito e inverso ao tradicional, todos
desejando depositar seu milhão (de dólares) na poupança. Como? Quem falou? Os
bancos não pagariam juros? É óbvio, não tendo para quem emprestar, na realidade
os bancos cobrariam taxas – elevadíssimas - para guardar seu dinheiro. Esqueça
a utópica possibilidade de viver de rendas.
Randomicamente,
escolhamos uma categoria profissional: pronto, a dos executivos, acostumados a
mordomias, secretárias elegantes, bonitas, motoristas atenciosos – a partir de
agora não poderiam mais contar com esses, por um simples motivo: por que
alguém, com um milhão no bolso, iria trabalhar por quaisquer dois, três ou
cinco mil reais? E dando um salto na escala empregatícia, e com o devido
respeito à profissão, que nada deve a dos executivos, quem iria recolher o
lixo?
E aqueles que sempre
sonharam com a casa própria, teriam a maior decepção de sua vida. No
contraponto da escassez histórica de moradias versus excesso de dinheiro e
compradores, um simples apartamento JK valeria algumas dezenas de milhões de
dólares, frustrando os novos-ricos que, apesar de endinheirados, continuariam
catalogados na categoria dos sem-teto. Novos imóveis não seriam construídos,
pois os trabalhadores da construção civil, carpinteiros, mestres, ou simples
peões, agora travestidos de milionários, estariam indisponíveis pensando nos
seus investimentos.
Os colégios fechariam,
afinal, 100% dos estudantes, ricos já na adolescência, não teriam mais desafios
pela frente. Milionários, sabendo digitar alguns sons onomatopéicos no teclado
do seu computador, o suficiente para entrar no facebook ou twitter da vida, e
manter um resquício de tentativa de comunicação com o mundo exterior, estariam
plenamente satisfeitos e realizados.
Meus amigos, proprietários
de agências lotéricas, quebrariam de vez. O sonho de milhões de brasileiros, de
enriquecer através do acerto de qualquer uma das lotéricas numéricas, se
tornaria inócuo. A venda da Amazônia se encarregaria de liquidar com a mania
nacional das filas em busca do acerto da mega sena acumulada. Seria o fim das
lotéricas.
E, entre tantos
dissabores, duas alegrias! A primeira,
não haveria mais o Big Brother Brasil! Os prováveis participantes, donos de um
milhão cada um, não se interessariam pelo valor modesto do prêmio, e nós
finalmente estaríamos livres dessa praga que assola a televisão brasileira com
diuturnidade. E a segunda: o INSS estaria livre da falência tão
sistematicamente apregoada: os aposentados, velhinhos e velhinhas, agora todos
milionários, deixariam compulsoriamente de receber suas pensões e
aposentadorias, que tanto prejudicam o Instituto, permitindo desta forma que o
governo aumentasse os salários dos sofridos deputados e senadores, para um
valor mais do que justo, estimado em 91%, e não o “salário de fome” que hoje
percebem.
Ninguém mais seria
empregado – todo mundo financista, banqueiro, patrão, prestamista (um eufemismo
para o agressivo vocábulo agiota), mas todos sem clientes, sem empregados, sem
tomadores para o dinheiro fácil. A inflação que grassou na Alemanha no século
passado, quando as pessoas eram vistas carregando um carrinho de mão atulhado
de dinheiro, com o intuito de comprar apenas um litro de leite, ao custo de
bilhões de marcos, seria “fichinha” perto da inflação a que seríamos
acometidos.
Pelo menos estaríamos
livres daqueles distribuidores de santinhos que infestam as principais ruas das
cidades, oferecendo dinheiro à vontade, afinal de contas, ninguém precisaria
mais de empréstimos. Todo mundo rico...
Autor: Davi Castiel Menda
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