"Cuido da saúde de criminosos condenados há 30 anos. E por razões éticas
não busco saber o que de errado fizeram. Sigo essa atitude para cumprir o
juramento que fiz ao me tomar médico", disse Dráuzio Varella ontem no Fantástico.
Já o juramento a que
ele se refere, e assegura cumprir, notem bem, não diz exatamente isso:
"Juro solenemente que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre
fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no
interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que
me forem revelados, o que terei como preceito de honra. NUNCA ME SERVIREI DA
MINHA PROFISSÃO PARA CORROMPER OS COSTUMES OU FAVORECER O CRIME. Se eu cumprir
este juramento com fidelidade, gozem para sempre a minha vida e a minha arte de
boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o
contrário".
O juramento diz que
um médico não poderá negar tratamento a um homicida ou estuprador que dele
necessite (assim como um advogado criminalista, aliás, não pode recusar uma
defesa criminal em virtude do crime cometido). O juramento NÃO DIZ que um
médico usará de seu prestígio e espaço na mídia pra transformar um estuprador e
homicida num herói.
Ao contrário, ao
conduzir milhões de pessoas a empatizarem com um homicida, estuprador e
ocultador de cadáver, Dráuzio Varella traiu a medicina. E agora quer se
proteger atrás de seu jaleco, num momento em que não foi médico, mas antes agiu
como publicitário de um assassino.
Imaginem vocês a dor
da mãe da criança que pereceu nas mãos daquele monstro ao assistir à
glamurização do assassino de seu filho na TV aberta diante de 20 milhões de
pessoas. O fato de algo assim ainda gerar debate, ao invés de repúdio generalizado,
só mostra como a bússola moral da sociedade brasileira foi desregulada com
sucesso ao longo de 40 anos de reengenharia social brutal.
Todo médico que honra
sua profissão tem o dever de repudiar esse atentado à dignidade humana, em
cumprimento, justamente, ao mesmo juramento que Dráuzio Varella covardemente
tenta usar como escudo pra glorificação do que a humanidade tem de pior:
"Se eu cumprir este juramento com fidelidade, gozem para sempre a minha
vida e a minha arte de boa reputação entre os homens; SE O INFRINGIR OU DELE
AFASTAR-ME, SUCEDA-ME O CONTRÁRIO".
Artigo de Rafael Rosset, Advogado.
Artigo de Rafael Rosset, Advogado.
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