sábado, 21 de novembro de 2009

MEUS AMIGOS CATARINAS

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Devo-lhes um pedido de desculpas.

Não estou acostumado a pilotar tão velozmente e atrapalhei diversas vezes o trânsito, principalmente no trajeto Joinville-Florianópolis, onde a BR-101 é duplicada.

De início eu trafeguei no limite máximo de 100 km por hora. Como respeito o direito de ultrapassagem, ao notar algum veículo crescer no meu retrovisor – como diz o Galvão Bueno –, desviava para a direita, desde que desse tempo. Às vezes ele vinha tão rápido que, instintivamente, me abaixava porque parecia que ia alçar vôo e passar por cima.

Os apressadinhos dirigiam-me acintosamente o rosto e me fuzilavam com um olhar de desdém e desprezo, como se eu estivesse andando de tamancos enlameados nos tapetes do Palácio de Buckingan.

E nunca era um só um. Geralmente passam dois, e até três, coladinhos por algum cabo rígido especial e impulsionados por turbinas nucleares.

Então resolvi aumentar a velocidade. Passei para 110 km horários, o máximo tolerado pela PRF. Não adiantou.

As mesmas ultrapassagens, os mesmos olhares desdenhosos.

Carros menores como Unos e mesmo um Chevette me ultrapassaram e seus motoristas me olharam de um modo tão acintoso que fiquei com vergonha de ter um Vectra. Pensei em comprar um fusca, daqueles do Itamar, e andar sempre pela direita. Pelo acostamento não dá: é infração grave, com 7 pontos na carteira.

Voou por mim uma Parati branca, no dia 02, antes das 9,00 horas, entre Itajaí e Florianópolis. Um símbolo estatal na porta: “Secretaria de Desenvolvim...”. Não deu tempo de ler o resto. Quando tentei pedir para a Ieda anotar a placa, estava longe...

Falando sério. Eu acesso diariamente o A Notícia, de Joinville, para me atualizar sobre os fatos daí. É o que melhor atende minha busca por informações, pois é abrangente, com enfoque específico do interior. Mas não gosto de fazê-lo nas segundas-feiras porque o destaque são as mortes do trânsito no fim-de-semana. Acho que Santa Catarina é o Estado em que, proporcionalmente, mais se morre em acidentes no Brasil.

Quando se vê a juventude acenando o adeus definitivo antes de sequer experimentar alguma coisa da vida adulta, sonhos sendo cortados antes de serem sequer sonhos, futuros podados antes de começar a dar fruto, jazigos entre cujas datas de nascimento e morte não transcorrem sequer 30 anos, dá uma tristeza e uma vontade de chorar mais do que o Pelé na frente de uma câmera de TV. Mas chorar baixinho e escondido, impotente e desnorteado. Há cerca de um ano um afilhado meu perdeu a jovem esposa num acidente. Não há coisa mais aflitiva!

Meus amigos conterrâneos catarinas: cada um faz o que quer com sua vida, mas junto com o pedido de desculpas por ter, eventualmente, atrapalhado uns e outros no trânsito, permitam dizer alguma coisa mais séria e – perdoem a pretensão – paternal: nossa faixa litorânea está se tornando cada vez mais cheia de morte. Ela que sempre foi tão cheia de vida!

Quanto aos olhares desdenhosos, imagino que fossem motivados pela placa do meu carro, que é de Porto Alegre. Vou providenciar dois adesivos com os dizeres “SOMOS DE TAIÓ” e colocar um no pára-brisa outro no vidro traseiro cada vez que for a Santa Catarina.

Assim os apressadinhos vão pensar: “Coitado, é da roça e não está acostumado a dirigir no asfalto”. E passarão a me olhar com olhos mais indulgentes.
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Publicado no Jus Sperniandi, do autor, no Uol,
em 05/08/2004.
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Um comentário:

  1. Pitaco transcrito do post original:

    [Tell] [http://www.tagarela.blogger.zip.net]
    Ilton, devagar e sempre.... E que venham os olhares desdenhosos!!!!!

    05/08/2004 23:45

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