Foto batida com uma antiga Olympus Trip, em 1977, sem recurso nenhum. Daquelas econômicas, que usava apenas meio fotograma nos filmes de 35 mm.
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Em Taió tem uma igreja de ouro.
A primeira coisa que eu me lembro é que nela levei um tapa na cara de uma freira velha. Tão velha que hoje deve estar dando trompaços no Diabo, com o qual tanto nos amedrontava.
Tomei ali a primeira comunhão com um padre que depois virou bispo e curandeiro e hoje é aposentado. Mas é muito considerado, não sei se por um motivo ou por outro.
Eu passava mal nos domingos de manhã por causa do jejum de três horas. Depois reduziram para uma, mas a fome era a de uma noite inteira: quem iria se levantar uma hora mais cedo aos domingos? A missa não acabava nunca...
O padre Eduardo, que xingava mulheres e cachorros, esticava no final com mais três Ave-Marias, um Pai-Nosso e uma Salve-Rainha. Decerto pecávamos demais.
Mas as missas se tornaram mais agradáveis depois, nos sábados à noite. Eu, adolescente garboso e desajeitado – os adolescentões podem ser uma e outra coisa ao mesmo tempo –, ia ver as gurias. Uma, principalmente, que partiu e me partiu no dia 05 de junho do ano que não acabou.
Depois me recompus e, ainda estudante universitário, voltei a Taió para me casar na igreja de ouro. Sou casado até hoje. Com a mesma mulher!
Batizei lá meu primeiro afilhado, depois velei minha mãe e mais tarde batizei minha filha. Dois irmãos casaram-se nela e estão casados até hoje. Com as mesmas respectivas mulheres. Alguns de seus filhos também foram batizados naquela igreja.
Sempre, daí, o padre Moacir, um sacerdote com estampa de santo.
Sinto-me feliz porque tive oportunidade de lhe escrever uma carta dizendo exatamente isto. Ele não deu a mínima importância.
Mais tarde, em 1990, ele morreu, ainda moço, porque não tinha tempo de ir ao dentista. Um dia infeccionou-lhe um dente e resolveu fazer um tratamento nada ortodoxo com o próprio canivete. Septicemia. Fulminante.
No dia 25 de abril de 1984 – “diretas já!” e aniversário da Revolução Portuguesa – ali velei meu pai.
Depois, no mesmo ano, nasceu meu filho. Foi ainda o padre Moacir que o batizou. Mas não naquela igreja.
Alguns ciclos se quebram naturalmente. Outros, por vontade nossa.
É bom, para que não se tornem viciados.
Em Taió tem uma igreja de ouro.
A primeira coisa que eu me lembro é que nela levei um tapa na cara de uma freira velha. Tão velha que hoje deve estar dando trompaços no Diabo, com o qual tanto nos amedrontava.
Tomei ali a primeira comunhão com um padre que depois virou bispo e curandeiro e hoje é aposentado. Mas é muito considerado, não sei se por um motivo ou por outro.
Eu passava mal nos domingos de manhã por causa do jejum de três horas. Depois reduziram para uma, mas a fome era a de uma noite inteira: quem iria se levantar uma hora mais cedo aos domingos? A missa não acabava nunca...
O padre Eduardo, que xingava mulheres e cachorros, esticava no final com mais três Ave-Marias, um Pai-Nosso e uma Salve-Rainha. Decerto pecávamos demais.
Mas as missas se tornaram mais agradáveis depois, nos sábados à noite. Eu, adolescente garboso e desajeitado – os adolescentões podem ser uma e outra coisa ao mesmo tempo –, ia ver as gurias. Uma, principalmente, que partiu e me partiu no dia 05 de junho do ano que não acabou.
Depois me recompus e, ainda estudante universitário, voltei a Taió para me casar na igreja de ouro. Sou casado até hoje. Com a mesma mulher!
Batizei lá meu primeiro afilhado, depois velei minha mãe e mais tarde batizei minha filha. Dois irmãos casaram-se nela e estão casados até hoje. Com as mesmas respectivas mulheres. Alguns de seus filhos também foram batizados naquela igreja.
Sempre, daí, o padre Moacir, um sacerdote com estampa de santo.
Sinto-me feliz porque tive oportunidade de lhe escrever uma carta dizendo exatamente isto. Ele não deu a mínima importância.
Mais tarde, em 1990, ele morreu, ainda moço, porque não tinha tempo de ir ao dentista. Um dia infeccionou-lhe um dente e resolveu fazer um tratamento nada ortodoxo com o próprio canivete. Septicemia. Fulminante.
No dia 25 de abril de 1984 – “diretas já!” e aniversário da Revolução Portuguesa – ali velei meu pai.
Depois, no mesmo ano, nasceu meu filho. Foi ainda o padre Moacir que o batizou. Mas não naquela igreja.
Alguns ciclos se quebram naturalmente. Outros, por vontade nossa.
É bom, para que não se tornem viciados.
Publicado no Jus Sperniandi, do autor, no Uol,
em 17/06/2004.
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Pitacos transcritos do post original:
ResponderExcluir[Thiago] [www.wamozart.cjb.net]
Um dos seus melhores textos, Ilton. Emocionante e nostálgico. Parabéns.
19/07/2004 10:28
[Giorgia] [giorgia@gmail.com] [www.coisasbobas.blogspot.com]
Lindo texto!
17/07/2004 18:40
Professor Tito!
ResponderExcluirBelo e emocionante texto. Com suas aulas aprendi a gostar da boa música clássica nos bons tempos do Seminário de Taió. Se me permitir irei postar "A IGREJA DE OURO DE TAIÓ" no meu blog. Saudações!