segunda-feira, 9 de novembro de 2009

UM TEMA IGNOMINIOSO

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A poesia abaixo talvez não tenha valor como arte. O tema, em si, é difícil de ser tratado em forma poética. Mas reflete um modo de encarar esse tipo de infâmia. Foi publicada no Caderno de Literatura n.º 3, do Projeto DivulgaArte, da AJURIS, de agosto de 1998.

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ANISTIA

Eu entendo a dor dos torturados,
mas não a motivação intrínseca
do torturador.
A necessidade de mostrar que é macho?
a vontade de mostrar que é forte?
ou a fraqueza de sua própria dor?

Qual a dignidade dos que ferem
quem está dominado
e não tem meios reagir?
A obediência ao superior hierárquico?
A visão de um mundo (de quê?) libertado?
A coação irresistível do dever a cumprir?

Que coragem é esta de matar um morto,
de castigar alguém que é menos que uma criança?
É mesmo coragem,
É mesmo dignidade,
ou o mais lídimo exemplo da desesperança?

Tu, que torturaste há 30 anos,
o que estás sentindo agora?
A morte cada vez mais perto,
a vida caminhando embora.

Tens pelo menos a capacidade do remorso?
Mas como terás a consciência calma?
A anistia que recebeste um dia
Não alforria a tua própria alma!


Publicada originalmente em blog do mesmo nome, no Uol,
em 16/06/2004.
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