quinta-feira, 19 de novembro de 2009

OS BOIS DO TIO ZECA

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THALES E PITÁGORAS ou OS BOIS DO TIO ZECA
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Certos princípios mantêm alguma semelhança, embora aplicados em campos diferentes, mas que induzem a conceitos de uso ou não-uso. Pois por aí já começa a complicação: o que é semelhante não é igual, é diferente, e por isto a afirmativa supra. Vou tentar explicar.

Quando meu filho corria de kart eu, que sou filho de mecânico e passei grande parte de minha infância sujo de graxa numa oficina, entre calhambeques, ônibus, caminhões, ferro-velho, tornos e outras ferramentas, avoquei para mim certas funções.

Além de paitrocinador, era também mecânico. Pelo menos assistente do preparador que eu pagava para tal. Um assistente graduado, pois como remunerador detinha argumento$ mai$ do que convincente$ para dar meus pitacos. Não devo ter estorvado muito, porque a equipe foi sempre bem sucedida.

Pois bem. Às vezes um simples parafusinho quebrado era motivo de sair pelos outros boxes procurando um igual.

Para coisas pequenas até no kartismo há solidariedade.

– Igual não tenho, mas tenho um parecido aqui ó! Serve?

– Não, parecido não adianta. Tem que ser igual.

Essa foi a melhor contribuição filosófica que o kart deu à minha vida: a conclusão óbvia, mas que não parece tanto, de que tudo o que é parecido é, natural e inexoravelmente, diferente...

Assim na mecânica automobilística, na Física, no Direito, na Medicina e em todos os campos da atividade humana.

Mas o melhor exemplo dessa dicotomia interessante me foi dado pelo tio Zeca, que viveu lá nos interiores do interior de Taió. Não sabia ler nem escrever e nunca freqüentou um dia de aula.

Mesmo que talvez não soubesse decifrar cientificamente a proposição, ele tinha noções empíricas, instintivas e precisas dela.

Apesar do pouco estudo, era um negociador esperto. Certa vez adquiriu dois garbosos bois de canga para atrelar no seu carro-de-boi.

Eram semelhantes. Um era parecido com o outro; mas eram diferentes.

Ele não teve dúvidas e pespegou-lhes os nomes de Diferente e Parecido.

Eu nunca descobri qual era o boi Parecido e qual era o boi Diferente. Mas ele os identificava com uma olhadela de relancina...

Só não sabia que o batismo de seus bois foi a mais prática demonstração de um teorema que nem Pitágoras nem Thales de Mileto tiveram coragem de propor.

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Publicado no Jus Sperniandi, do autor, no Uol,
em 29/07/2004.
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Um comentário:

  1. Pitacos transposto do original:

    [Tell] [http://www.tagarela.blogger.zip.net]
    A melhor escola ainda é a vida!!!

    29/07/2004 23:28

    [seu cadela] [edbecker@brturbo.com.br]
    Interessante comentário sobre tio Zeca. Hoje nossos vereadores estão sendo questionados sobre seus graus de escolaridades. Fico me perguntando como pude enganar tantos por tanto tempo, pois, pois tenho sido registrador por muitos anos (função exclusiva de profisssional do direito) sem ter sequer concluído o ensino medio (muito antigamente consegui chegar ao 2 ano deste). Hoje por sentir vergonha estou cursando o 7 semestre da faculdade de direito. Mas tenho certeza que assim como o tio Zeca, apesar das deficiencias aprendi de uma forma ou outra ser competente, assim como Vossa Excelência o foi como mecânico. Abraços - Edgar Ainda não achei a melhor foto de Espumoso, mas estou procurando o local, pois nosso Espumoso tem que aparecer bem na fotogrqafia.

    29/07/2004 21:36

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