Autor: Davi Castiel Menda
.
“Por vontade de um prego, perdeu-se
uma ferradura;
Por vontade de uma ferradura,
perdeu-se um cavalo;
Por vontade de um cavalo, perdeu-se
um cavaleiro;
Por vontade de um cavaleiro,
perdeu-se uma batalha;
Por vontade uma batalha, perdeu-se
um reino.”
.
Nas mitologias e cosmogonias
pré-filosóficas, o caos seria o vazio obscuro e ilimitado que precedeu a
geração do mundo. Ele teria sido interrompido pelo big-bang, modelo
atualmente aceito para explicar a evolução cósmica. Decorridos milhões de anos,
o homem descobriu a entropia, medida da quantidade de desordem num sistema e
que conduziria o universo inexoravelmente ao caos. Na verdade, foi uma
redescoberta, pois o caos nunca deixou de existir. A realimentação que ilustra
o início deste artigo, com suas origens na sabedoria popular, é um exemplo
admirável de que o caos está permanentemente à nossa volta.
.
O Dicionário Aurélio é
irrepreensível ao conceituar o caos: “Comportamento praticamente imprevisível
exibido em sistemas regidos por leis deterministas, e que se deve ao fato de que
as equações não-lineares que regem a evolução desses sistemas serem
extremamente sensíveis a variações, em suas condições iniciais; assim, uma
pequena alteração no valor de um parâmetro pode gerar grandes mudanças no
estado do sistema, à medida que este tem uma evolução temporal.”
.
A Teoria do Caos faz jus ao nome
pelo contraditório. O princípio fundamental estabelece que tudo que acontece no
universo, apesar da aleatoriedade, segue uma determinada ordem. Aos nossos
olhos, essa quantidade imensurável de ocorrências, com possibilidades que
tendem ao infinito, apresentam-se como simples acontecimentos ao acaso.
Entretanto, para matemáticos, físicos, economistas e meteorologistas, esses
comportamentos casuais podem ser previstos através de fórmulas e dentro de
margens estatísticas confiáveis; isto seria algo inconcebível ao leigo – a previsão
do acaso! O segundo caminho, diametralmente em oposição ao primeiro, nos
demonstra a dificuldade em alcançar resultados satisfatórios, motivados pela
confusão e desorganização – o caos propriamente dito.
.
O Covid-19, situação que estamos
vivenciando e que permanecerá inesquecível negativamente na história da
humanidade, demonstra ser o retrato perfeito, pictórico, da Teoria do Caos,
caprichosamente inserida nas duas opções descritas. É de se questionar como uma
desprezível ocorrência, em determinado ponto de um sistema dinâmico, pode
acarretar consequências de proporções inimagináveis?
.
Edward Lorenz, em 1963, teorizou
através da simbologia de um simples bater de asas de uma borboleta em um lugar
qualquer do mundo; o ar produzido poderia ser o limite diferencial entre um
simples vento e uma perturbação passageira ou uma tempestade tropical, desencadeando
uma alteração no comportamento da atmosfera terrestre em localidades e tempos
distantes, num processo denominado realimentação. Sintetizando a idéia de
Lorenz: uma borboleta bate asas na China e causa um furacão na América – o
chamado efeito borboleta. Isto nos leva a afirmar que todos os pequenos eventos
que ocorrem instante a instante são na verdade incontáveis efeitos borboleta,
cujos somatórios se transformam em grandes mudanças universais. O mais
impressionante de tudo isto, é o exemplo iluminado e visionário empregado por
Lorenz para demonstrar sua teoria: “uma borboleta bate asas na China e causa um
furacão na América”. Numa escala de 1 a 10, Lorenz mereceria 9.99; teria
atingido a pontuação máxima se tivesse prognosticado “um morcego bateu asas na
China e causou um furacão no mundo”!
.
Segundo Laplace, que formulou o
desenvolvimento e os princípios da Teoria das Probabilidades (a mater
inspiradora da Teoria do Caos), “uma inteligência conhecendo todas essas
variáveis em determinado momento, poderia compor numa só fórmula matemática a
unificação de todos os movimentos do universo. Consequentemente, deixariam de
existir para esta inteligência o passado e o futuro, pois aos seus olhos todos
os eventos seriam resultantes do momento presente”.
.
A dúvida que paira no ar: se essa
inteligência descrita por Laplace, ou um grupo, ou uma nação, disponibilizasse
supermentes operando supercomputadores – tipo um Summit da IBM que executa
200 quatrilhões de cálculos por segundo ou o chinês Tianhe com velocidade
ligeiramente inferior – com o intuito de controlar matematicamente os pequenos
eventos que se transformam em grandes consequências, teria o poder de dominar,
através desta manipulação, o destino de toda ou boa parcela da humanidade? Não
estaria neste exato momento em plena execução?
Por: Davi Castiel Menda
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dê o seu pitaco: