quinta-feira, 23 de abril de 2020

A TEORIA DO CAOS E O COVID-19



Autor: Davi Castiel Menda
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“Por vontade de um prego, perdeu-se uma ferradura;
Por vontade de uma ferradura, perdeu-se um cavalo;
Por vontade de um cavalo, perdeu-se um cavaleiro;
Por vontade de um cavaleiro, perdeu-se uma batalha;
Por vontade uma batalha, perdeu-se um reino.”
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Nas mitologias e cosmogonias pré-filosóficas, o caos seria o vazio obscuro e ilimitado que precedeu a geração do mundo. Ele teria sido interrompido pelo big-bang, modelo atualmente aceito para explicar a evolução cósmica. Decorridos milhões de anos, o homem descobriu a entropia, medida da quantidade de desordem num sistema e que conduziria o universo inexoravelmente ao caos. Na verdade, foi uma redescoberta, pois o caos nunca deixou de existir. A realimentação que ilustra o início deste artigo, com suas origens na sabedoria popular, é um exemplo admirável de que o caos está permanentemente à nossa volta.
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O Dicionário Aurélio é irrepreensível ao conceituar o caos: “Comportamento praticamente imprevisível exibido em sistemas regidos por leis deterministas, e que se deve ao fato de que as equações não-lineares que regem a evolução desses sistemas serem extremamente sensíveis a variações, em suas condições iniciais; assim, uma pequena alteração no valor de um parâmetro pode gerar grandes mudanças no estado do sistema, à medida que este tem uma evolução temporal.” 
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A Teoria do Caos faz jus ao nome pelo contraditório. O princípio fundamental estabelece que tudo que acontece no universo, apesar da aleatoriedade, segue uma determinada ordem. Aos nossos olhos, essa quantidade imensurável de ocorrências, com possibilidades que tendem ao infinito, apresentam-se como simples acontecimentos ao acaso. Entretanto, para matemáticos, físicos, economistas e meteorologistas, esses comportamentos casuais podem ser previstos através de fórmulas e dentro de margens estatísticas confiáveis; isto seria algo inconcebível ao leigo – a previsão do acaso! O segundo caminho, diametralmente em oposição ao primeiro, nos demonstra a dificuldade em alcançar resultados satisfatórios, motivados pela confusão e desorganização – o caos propriamente dito.
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O Covid-19, situação que estamos vivenciando e que permanecerá inesquecível negativamente na história da humanidade, demonstra ser o retrato perfeito, pictórico, da Teoria do Caos, caprichosamente inserida nas duas opções descritas. É de se questionar como uma desprezível ocorrência, em determinado ponto de um sistema dinâmico, pode acarretar consequências de proporções inimagináveis?
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Edward Lorenz, em 1963, teorizou através da simbologia de um simples bater de asas de uma borboleta em um lugar qualquer do mundo; o ar produzido poderia ser o limite diferencial entre um simples vento e uma perturbação passageira ou uma tempestade tropical, desencadeando uma alteração no comportamento da atmosfera terrestre em localidades e tempos distantes, num processo denominado realimentação. Sintetizando a idéia de Lorenz: uma borboleta bate asas na China e causa um furacão na América – o chamado efeito borboleta. Isto nos leva a afirmar que todos os pequenos eventos que ocorrem instante a instante são na verdade incontáveis efeitos borboleta, cujos somatórios se transformam em grandes mudanças universais. O mais impressionante de tudo isto, é o exemplo iluminado e visionário empregado por Lorenz para demonstrar sua teoria: “uma borboleta bate asas na China e causa um furacão na América”. Numa escala de 1 a 10, Lorenz mereceria 9.99; teria atingido a pontuação máxima se tivesse prognosticado “um morcego bateu asas na China e causou um furacão no mundo”!
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Segundo Laplace, que formulou o desenvolvimento e os princípios da Teoria das Probabilidades (a mater inspiradora da Teoria do Caos), “uma inteligência conhecendo todas essas variáveis em determinado momento, poderia compor numa só fórmula matemática a unificação de todos os movimentos do universo. Consequentemente, deixariam de existir para esta inteligência o passado e o futuro, pois aos seus olhos todos os eventos seriam resultantes do momento presente”.
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A dúvida que paira no ar: se essa inteligência descrita por Laplace, ou um grupo, ou uma nação, disponibilizasse supermentes operando supercomputadores – tipo um Summit da IBM que executa 200 quatrilhões de cálculos por segundo ou o chinês Tianhe com velocidade ligeiramente inferior – com o intuito de controlar matematicamente os pequenos eventos que se transformam em grandes consequências, teria o poder de dominar, através desta manipulação, o destino de toda ou boa parcela da humanidade? Não estaria neste exato momento em plena execução?

Por: Davi Castiel Menda

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